Escrito por: APP-Sindicato
Violência contra a categoria deixou mais de 400 feridos. Governo do Estado promoveu um verdadeiro massacre
O dia 29 de abril de 2015 jamais será esquecido. Jamais. A tragédia do dia 30 de agosto de 1988 se repetiu, educadores(as) foram massacradas em praça pública de novo. Não é exagero dizer que esse dia é uma mancha na história da educação pública do Paraná.
Quem não estava na praça protestando contra a votação do Projeto de Lei, que saqueou a aposentadoria dos(as) servidores(as) públicos(as) do Paraná, certamente ouviu falar da violência contra os(as) educadores(as) naquele dia. Jornais do país inteiro deram destaque para o que aconteceu. Jornais de outros países noticiaram, surpresos, a forma como professor(a) e funcionário(a) de escola é tratado(a) pelo governo do Paraná.
Mas o que aconteceu no dia 29 de abril?
Milhares de educadores(as) estavam em frente à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) exigindo que a votação naquele dia fosse encerrada, já que a pauta era clara: o governo estava disposto a pegar oito bilhões de reais da previdência dos(as) servidores(as) para pagar dívidas do Estado. As contas públicas estavam uma bagunça, já que a má gestão e os altos gastos contribuíram para o descontrole nos cofres públicos paranaenses.
A polícia cercava a Alep, a mando do governo. A intenção era garantir que as pessoas não pudessem acompanhar a votação. A tensão era grande, mas a categoria jamais imaginou que sofreria uma violência tão grande. No total, foram mais de 400 educadores(as) feridos(as) fisicamente. Balas de borracha, spray de pimenta, jatos de água e bombas de efeito moral são exemplos de armamentos que a polícia usou contra a categoria. O número de trabalhadores(as) feridos(as) psicologicamente não é possível mensurar, já que a indignação, tristeza e angústia afetou toda a sociedade, não só os(as) trabalhadores(as) que estavam na praça protestando.
Durante o tumulto, Saulo de Oliveira, que é professor do Núcleo Sindical de Maringá, foi atingido. O educador conta que não era uma bala de borracha, mas sim um metal. “Tive que fazer um curativo com oito pontos”, desabafa. Vitor Molina, que atua na mesma região, também foi atingido. O educador levou um tiro de bala de borracha no peito. Além disso, Vitor, acusado de ser um black block, foi levado preso. “Me jogaram no chão, xingando e ofendendo... Quando eu estava no chão, espirraram spray de pimenta dentro da minha boca e me levantaram, puxando pela roupa”, relembra.
O próprio governador Beto Richa alegou que haveriam black blocks no ato. Dois meses depois o Ministério Público, após encerrar a investigação que contém mais de 580 depoimentos, imagens, fotos e inúmeros materiais enviados pela imprensa e sociedade em geral, divulgou que não haviam black blocks na manifestação. Se houvessem, ainda assim, não poderiam ser tratados dessa maneira.
O educador Cristiano Pedro Rosa, que atua no Núcleo Sindical Metrosul, se indigna ao lembrar das acusações do governo de haver infiltrados na manifestação. “Eles diziam que existiam infiltrados... Só se for infiltrados do governo, porque até o momento os infiltrados seriam pais de família, estudantes, adolescentes, mães e os professores desarmados, somente com suas plaquinhas e seu direito mesmo de se manifestar”.
Durante o massacre, que durou mais de duas horas, o presidente da Alep, deputado Ademar Traiano, disse que a violência que a categoria estava sofrendo não era problema da Assembleia Legislativa do Paraná, mesmo que o Projeto de Lei estivesse sendo votado na Casa. O deputado Professor Lemos, que se colocou ao lado dos(as) educadores(as) desde o início da greve da categoria, fez uma apelo para que a votação fosse suspensa. A resposta do presidente da Alep indignou a categoria: “A sessão aqui está segura. O problema lá fora não é da responsabilidade da nossa Assembleia. Vossa Excelência tem que entender que nós aqui estamos numa sessão normal. Fora da assembleia, é de responsabilidade da Secretaria de Segurança. Não vamos tumultuar a sessão, professor Lemos”. Com a fala do deputado, o objetivo do governo era claro: o projeto deveria ser votado a todo custo, mesmo que a integridade dos(as) educadores(as) estivesse sendo violada.
Do lado de fora, o cenário era de guerra. Centenas de pessoas eram carregadas em direção ao prédio da Prefeitura de Curitiba, para que as ambulâncias e o resgate tivessem melhor acesso aos(as) feridos(as). Os próprios educadores e educadoras criaram um corredor, com ajuda de um cordão humano, para garantir que as pessoas fossem socorridas rapidamente. No carro de som, dirigentes da APP-Sindicato gritavam por socorro. A polícia não permitia que o resgate fosse buscar os(as) educadores(as) que estavam feridos(as) perto da barreira policial. “Sem violência, chamem as ambulâncias, tem gente ferida, parem de bater nos trabalhadores” era o grito que ecoava pela praça.
A professora Zilda Tosin recorda claramente da tentativa de fazer com que a polícia parasse com as agressões. Dirigentes da APP-Sindicato pediam ajuda e calma da categoria. “Escutei o pessoal do som falando: calma, pessoal. Muita tranquilidade, pois os carros da polícia também são patrimônios públicos, pertencem a nós também”, relembra. A manifestação sempre foi pacífica. A categoria estava nas ruas para exigir seus direitos, mas a violência foi a forma que, um governo sem argumentos e desesperado para garantir o acesso ao dinheiro dos(as) servidores(as), utilizou para garantir a votação.
Dois meses após o Massacre do Centro Cívico, o Ministério Público do Paraná apontou excessos na ação policial. Além disso, declarou que estava entrando com uma ação civil pública, por ato de improbidade administrativa, contra o governador Beto Richa, o ex-secretário de Segurança Pública, Fernando Francischini, e o ex-comandante da Polícia Militar, César Kogut. O ex-subcomandante da PM, Nerino Mariano de Brito, o coronel Arildo Luís Dias e o tenente-coronel Hudson Leôncio Teixeira também foram apontados na investigação e devem responder por isso.
Por tudo isso, esse sempre será lembrado como um dia de luto para a educação do Paraná. Um dia em que, mais uma vez, o governo do Estado se mostrou autoritário. “Se a nossa luta não barrou o ataque aos direitos previdenciários dos servidores do Paraná, expôs ao mundo e ao Brasil a face cruel de um modelo político autoritário, agressivo, que penaliza a população com o aumento de impostos, e penaliza diretamente os servidores públicos do Estado”, explica o professor Hermes Leão, presidente da APP-Sindicato.
O dia 29 de abril certamente foi um dia de luto, sim, mas também um dia de luta incansável. Dia em que toda a sociedade parou para apoiar a educação pública paranaense. “Nós poderemos, de agora em diante, contar ainda mais com o trabalho de participação popular em defesa dos direitos dos professores e de funcionários, mas também uma defesa da escola pública do estado do Paraná”, ressalta Hermes.
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