Escrito por: CUT-PR
Central iniciou debates nesta edição em ambiente virtual por conta da Covid-19
“Temos que dizer em alto e bom som: o povo não quer voltar a ser escravo, quer ser trabalhador, ter registro em carteira profissional, ter direito à previdência e seguridade social e um bom sistema de saúde. Nós provamos que é possível fazer com esse País e a CUT sabe disso”. Este foi o recado do ex-Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para os participantes da 16ª Plenária da CUT Paraná que teve início durante a noite desta sexta-feira. A mensagem de Lula foi o pontapé inicial em uma plenária que promete ser histórica.
Organizada no meio dos mandatos das direções estaduais e nacional da CUT, as plenárias da central servem como instrumento de análise e proposição de ações a partir do plano de lutas estabelecido durante os congressos. Contudo, é justamente neste momento em que são feitas as correções de rumo a partir da mudança na conjuntura. Além do cenário político, sanitário e econômico efervescente, a mudança no sistema da plenária para o ambiente virtual e a homenagem às vítimas da Covid-19 também fazem dela singular.
“Nesta plenária vamos analisar o que construirmos e olhar para frente. Vamos trabalhar nosso plano de luta e caminhar para a segunda etapa do mandato. Confesso que estou indignado com o que acontece no Brasil. Hoje fui ser vacinado com a segunda dose, mas não fiquei feliz em nenhum momento. Poderíamos ter tido vacina para todos e todas antes. Não era necessário chegar às 567 mil mortes. Neste número estão muitos dirigentes sindicais que tombaram nesta luta e por isso essa plenária é um tributo aos companheiros e companheiras que pereceram nesta trajetória. A nossa resistência tem que ser colocada nas ruas imediatamente. Precisamos atender o chamado dos servidores públicos e barrar a reforma administrativa que tem a lógica de um estado mínimo, de uma direita raivosa, preconceituosa, misógina e machista que nos faz enfrentar todos esses problemas que passamos agora. A nossa lógica agora é a da resistência”, afirmou o presidente da CUT Paraná, Marcio Kieller.
O presidente da CUT Brasil, Sérgio Nobre, lembrou os retrocessos promovidos pela gestão de Jair Bolsonaro e reforçou a importância da reorganização das entidades sindicais. “A pandemia acelerou processos que aconteceriam somente daqui há 10 anos, como o home-office por exemplo. Hoje existem categorias que têm mais de 70% de sua base assim, significa que se chegarmos no local de trabalho não vamos falar com a maioria dos trabalhadores, pois o local de trabalho passa a ser em casa. A inteligência artificial e novos sistemas, tudo isso coloca em xeque nosso modelo sindical. Foi muita acertada, em nosso 13º Congresso da CUT, a nossa decisão de que as plenárias tenham foco na reorganização do nosso modelo sindical, tão necessário”, analisou.
Lula – O ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, em seu recado aos participantes da plenária criticou duramente Jair Bolsonaro, sobretudo pela condução da pandemia. Do negacionismo obtuso às suspeitas de corrupção envolvendo a compra de vacinas. “Não acreditou na máscara, não acreditou no isolamento, montou uma verdadeira fábrica de corrupção que estamos vendo na CPI. Temos o problema do desemprego. São 15 milhões de pessoas desempregadas, além milhões desalentadas, que já nem procuram mais emprego. Mais de 30 milhões trabalhando com 'bico', sem ter renda fixa, sem previdência ou algum sistema de seguridade social”, pontuou Lula.
Ele ainda lembrou do retorno da fome e da falta de um projeto para o País. A fome voltou pesada. São 19 milhões passando fome neste País e mais de 34 milhões que não conseguem consumir as proteínas e calorias necessárias. Temos um presidente que nunca discutiu desenvolvimento, investimento em infraestrutura, tecnologia e educação e ainda tem um ministro que diz que universidade tem que ser para poucas pessoas. É esse País que vocês tem que ajudar a mudar. É esse País que vocês precisam definitivamente nos dar a palavra-de-ordem do que fazer em vez de discutir a vida do povo, discute o voto impresso. Algo está errado nesse País e só quem pode mudar é o povo trabalhador brasileiro. ”, analisou.
Abertura – O início da 16ª Plenária da CUT Paraná foi uma atividade cultural com a cantora Susi Monte Serrat, que foi intercalada com manifestos e análises de dirigentes da central de temas contemporâneos, como a homofobia, racismo e machismo. Na sequência, na mesa de abertura, a deputada federal e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, o ex-governador Roberto Requião e o secretário geral da Central Sindical das Américas, Rafael Freire, abriram os trabalhos com uma mesa de análise da conjuntura nacional e internacional.
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, lembrou dos projetos integrados voltados à classe trabalhadora durante as gestões de Lula e Dilma e reforçou a importância da central e da organização da resistência contra Jair Bolsonaro. “Quero reiterar o que disse o Presidente Lula da importância destas plenárias por todo o Brasil. Assim as centrais sindicais podem tirar suas propostas para reconquistar o Brasil para o povo brasileiro e para os trabalhadores”, destacou. Ela ainda recordou dos argumentos para o Golpe de 2016, marco temporal do início da sequência de crises no País. “Diziam que bastava tirar a Dilma e o PT e tudo seria resolvido. O que vimos foi a desestabilização da democracia”, completou.
Gleisi também exemplificou diversas ações de Bolsonaro que trouxeram retrocessos concretos para a classe trabalhadora, lembrando ainda do contraste entre os projetos populares e o projeto neoliberal. A condução, ou ausência dela, no combate à Covid-19 também foi alvo de análise. “Descobrimos na CPI da Covid que não era só atraso porque era negacionista, mas questão de negócio, o que o transforma em um 'negocionista'”, ironizou. “Antes da pandemia queriam um plano popular de saúde. Uma proposta do Ricardo Barros que acabaria com o SUS. Se tivéssemos feito isso a situação na pandemia seria ainda mais desastrosa”, disse a deputada ao falar dos ataques ao serviço público, sobretudo a partir da chamada Reforma Administrativa.
O ex-governador Roberto Requião reforçou a necessidade da realização da 16ª Plenária da CUT Paraná. “É importante para politizar a entidade e a sociedade. Uma realidade só pode ser modificada quando conhecida em profundidade. O Lula deu uma sugestão que eu abraço com entusiasmo: precisamos ter, originado a partir destes debates, uma proposta simples assinada pelos candidatos que se dizem da oposição, democráticos e populares. Não é possível pensar em oposição sem pensar em restabelecer os direitos dos trabalhadores”, enfatizou.
No Paraná, segundo Requião, a situação não é diferente do plano nacional. “O Governo do Paraná quer reprimir e tirar direitos de todos os trabalhadores de qualquer maneira, acabando com concurso público, formando um cabide de emprego para grupos políticos. Mas ao mesmo tempo que faz isso abre mão de impostos de R$ 17 bilhões para o ano que vem que não cobrará das empresas, principalmente do setor metal mecânico, que montam automóveis e são multinacionais”, completou.
Ainda segundo ele, o atual cenário político e econômico amplia ainda mais a importância da representação dos trabalhadores e trabalhadoras. “Os Movimentos sindicais são absolutamente indispensáveis no mundo e no Brasil muito mais que outro lugar. Até o Biden, presidente dos EUA, volta a usar recursos públicos para a geração de empregos. Ele não pode forçar, mas faz recomendação aos trabalhadores norte-americanos que se sindicalizem. Todas as conquistas de trabalhadores no mundo são fruto das corporações sindicais. O foco é o capital liberal, a luta é grande e estamos com vocês nesta luta”, destacou.
O secretário geral da Central Sindical das Américas, Rafael Freire, analisou os reflexos do neoliberalismo no Brasil e na América Latina. Segundo ele, há um ponto de inflexão a partir da crise de 2008, com o avanço do capital sob os direitos sociais. “Todo mundo lembra que quando aconteceu a crise de 2008 que desnudou o modelo neoliberal em sua existência, com a privatização do Estado e o mercado se regula. No final, o Estado teve que socorrer grandes bancos e só por aí caiu por terra esse argumento”, pontuou.
Ele listou golpes que ocorreram a partir de então na América Latina, como aconteceu com o Brasil e na Bolívia. “São ataques à democracia com desrespeito à institucionalidade e perseguição às lideranças políticas e sociais”, exemplificou. Segundo ele, esse aprofundamento do pragmatismo neoliberal também acelerou o avanço sob os direitos sociais. “Vende tudo, muito rápido e também ,da mesma forma, destruiu as conquistas dos governos de esquerda. Nisso veio a pandemia e não aprendemos nada com ela. Desmistificou o determinismo tecnológico, com o trabalho do futuro sendo robotizado, mas é uma menina ou um menino com mochila nas costas fazendo entregas”, lamentou.
Ainda de acordo com o secretário geral da CSA, dois desafios se impõem de imediato. Lutar pela mudança do atual modelo econômico e de gestão e fortalecer as alianças e a unidade das forças de esquerda. “Não temos o direito de valorizar as diferenças. Temos que buscar e a obrigação de construir a unidade, repactuando isso. Não podemos continuar nesse ritmo. Precisamos ter protagonismo real. É a nossa força de hoje que constrói o futuro”, finalizou.
Participações – Além da representação dos sindicatos e federações CUTistas e outras autoridades do campo político e dos movimentos sociais, a 16ª Plenária da CUT Paraná também recebeu mensagens de parlamentares e representantes de organizações da sociedade civil.
“A maior fase de retirada de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, de agressão aos servidores e servidoras. É importante a realização desta plenária para firmarmos força, criarmos ainda mais resistência para as lutas vindouras na defesa dos trabalhadores e trabalhadoras”, projetou o presidente do PT do Paraná, Arilson Chiorato.
O deputado federal Enio Verri destacou o cenário de destruição e a importância da CUT para virar o jogo. “Vivemos nos últimos anos a destruição do Estado Brasileiro e dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Hoje vemos nossa nação ser entregue ao grande capital. A privatização da Eletrobrás, dos Correios, o processo de divisão e privatização da Petrobrás. Esta é a marca do governo Bolsonaro. A nossa resposta é estarmos organizados para enfrentar essa crise. Já vencemos antes e estou convencido que venceremos novamente. Para isso precisamos de uma CUT forte e coesa”, disse aos participantes da plenária.
“A CUT é protagonista há muitos anos na defesa da classe trabalhadora brasileira, de um País que acolha e inclua toda a nossa população, respeitando toda a diversidade que forma a nossa sociedade. A CUT organiza essa plenária, momento importante para refletirmos sobre toda a nossa luta e trajetória. Mas também para prepararmos o projeto que vamos apresentar à sociedade brasileira em 2022”, destacou o deputado estadual Professor Lemos.
“A conjuntura impõe grandes desafios para a classe trabalhadora. Precisamos fortalecer as organizações populares, em especial, do movimento sindical. O golpe de 2016 trouxe grandes perdas políticas, com ataques diretos aos direitos sociais e trabalhistas. Temos um Brasil mais empobrecido e com 19 milhões de pessoas passando fome, 15 milhões de desempregados e mais de meio milhão de pessoas com as vidas ceifadas. O movimento sindical precisa continuar sendo a luz da conscientização e esperança de cada trabalhador e cada trabalhadora”, enfatizou a deputada estadual Luciana Rafagnin.
“Sempre para os trabalhadores foram tempos difíceis, de crise, de perseguição. Mas hoje o momento atual é mais difícil ainda porque por um lado estão sendo violentados por este governo neofascistas e por outro lado, os empresários gananciosos ampliam a retirada de direitos. Nossa saída é conhecer bem seus projetos e como nos exploram e ao mesmo tempo traçar planos de lutas e mobilização para nos defendermos e avançarmos”, analisou Roberto Baggio, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
“Seguimos juntos na construção da unidade da classe trabalhadora e nos desafios que se apresentam para enfrentarmos a crise sanitária, econômica, sanitária e ambiental. As condições de vida soa cada vez mais difíceis e por isso é cada vez mais necessária a construção da unidade para construir a esperança de um país melhor. Não abrimos mão destes valores e nos colocamos lado a lado da CUT e seus sindicatos e federações”, destacou Robson Formica, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
“É uma das grandes referências históricas e uma das ferramentas absolutamente indispensáveis para a construção de uma sociedade melhor e mais justa. Passamos por um momento de muita dificuldade, com milhões de pessoas desempregadas e sem saída. Por isso é tão importante uma ferramenta como a CUT, que tem sido a esperança para homens e mulheres que todos os dias veem seus direitos sendo roubados por um governo genocida e que não respeita nada”, disse o deputado estadual Tadeu Veneri.
O encerramento deste primeiro dia de plenária contou com uma exposição das correntes internas da central. Júlia Maria representou a Militância Socialista (MS), Janeslei Albuquerque a CUT Socialista e Democrática (CSD) e Neveraldo Oliboni, a Articulação Sindical (ArtSind). As exposições levaram em conta o cenário político, econômico e de saúde, com os principais retrocessos enfrentados pelo Brasil nos últimos anos.
Continuidade – A 16ª Plenária da CUT Paraná continua nesta sábado (14) com o credenciamento dos delegados e delegadas e aprovação do regimento interno a partir das 9h. Na sequência, uma mesa sobre conjuntura estadual com o coordenador técnico do Dieese no Paraná, Sandro Silva e com o deputado estadual e presidente do PT paranaense, Arilson Chiorato.
A partir das 10h20 terá início o debate por eixos, divididos em sub salas virtuais. São quatro temáticas centrais diferentes. No grupo 01 a defesa da vida será o tema, com participação da coordenadora do SindiSaúde, Olga Estefânia e com a secretária de saúde da Central, Madalena Margarida da Silva Teixeira. No grupo 2, da Marcha Mundial das Mulheres, Marilane Oliveira Teixeira e a secretária de combate ao racismo da CUT Brasil, Anatalina Lourenço, coordenaram as atividades com a pauta “A atualidade da defesa de direitos, democracia e soberania”.
O grupo 3 terá como eixo central “a necessária construção das alternativas da classe trabalhadora”, com o vice-presidente da CUT Brasil, Vagner Freitas e com o secretário de comunicação da CUT, Roni Barbosa. O último coletivo será organizado pelo secretário de administração e finanças da Central, Ariovaldo de Camargo e a secretária de Mobilização e Movimentos Sociais da CUT, Janeslei Albuquerque.
Veja, abaixo, na íntegra, a abertura da 16ª Plenária da CUT Paraná.