Escrito por: Imprensa CUT-PR

Cúpula Social do Mercosul: no encerramento, Lula afirma que bloco é exemplo para Europa

CO ltimo dia X Cpula Social do Mercosul, em Foz do Igua, Paran, personificou a Amrica do Sul, com cultura, mobilizao nas ruas e uma caracterstica que se tornou a marca registrada da nova cara desse continente: o orgulho de ser quem somos e a defesa da integrao entre os povos.

Na noite dessa quinta (16), a cerimnia no Cine Barrageiro, parte do complexo da Usina Binacional de Itaipu, onde aconteceu todo o evento, serviu de palco para parabenizar duas personalidades, Nstor Kirchner, ex-presidente da Argentina, morto em outubro de 2010 e homenageado em um vdeo que abriu o atividade, e o presidente Lus Incio Lula da Silva, em seu ltimo encontro com os movimentos sociais como principal figura pblica brasileira.

Antes mesmo de entrar no local, Lula recebeu uma placa da Centrais Sindicais do Cone Sul em homenagem sua luta pela unidade dos sul americanos. Um empenho destacado at mesmo pelo presidente Fernando Lugo, do Paraguai. Mesmo sendo presidente de um pas to importante, voc no deixou de ser companheiro dos movimentos sociais, comentou, referindo-se ao ex-dirigente sindical.

:: Obrigado, companheiro
Como representante da Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul, Adeilson Telles, membro da Direo Executiva da CUT foi o primeiro a falar e lembrou das vitrias conquistadas pelas naes integrantes do Mercosul. Derrotamos a Alca (Associao de Livre Comrcio nas Amricas) e a direita entreguista em vrios de nossos pases reafirmando nossa autonomia, com independncia, sem confundir com indiferena. Tendo como base as mudanas que promovemos nos ltimos anos digo que ningum mais deve ousar duvidar da fora desse povo, afirmou.

Porm, o dirigente no deixou de lembrar alguns compromissos fundamentais. As barreiras no devem ser quebradas apenas para a circulao de produtos, mas tambm para os povos. A Declarao Sociolaboral, aprovada em 1998, no pode ser uma letra morta e o trabalho decente no deve ser um frase em um cartaz para a OIT (Organizao Internacional do Trabalho) ver.

Aps ressaltar que a classe trabalhadora marchou e manter essa marcha por melhores condies para todos os brasileiros, Telles disse a frase que resumia o sentimento dos movimentos sociais presentes no local. Obrigado, companheiro Lula.

:: Integrao espantou a crise
Com os olhos marejados, Lula assumiu o microfone e dividiu sua interveno em duas partes.

Na primeira, protocolar, lembrou que o Brasil lanou a cpula em 2006 e que o bloco foi crucial para permitir maior autonomia da Amrica do Sul em relao Europa e aos EUA. Com isso, indicou, tivemos a chance de aproveitar esse momento para estruturar um novo modelo de relaes econmicas e sociais. Em meio a uma das mais graves crises econmicas da histria desfrutamos de uma situao econmica e poltica privilegiada e um nvel de maturidade que nos tem permitido avanar na consolidao da democracia em nossas sociedades. Temos amplas perspectivas de levar adiante o processo de desenvolvimento com justia social e bem-estar.

:: De vira-latas a protagonistas
J na segunda parte, na base do improviso, Lula fez questo de comparar a Amrica do Sul atual com a de 10 anos atrs. H 10 anos os presidentes dos pases da Amrica do Sul disputavam apenas o direito de ver quem era mais amigo do presidente dos Estados Unidos, quem seria convidado a Camp David para passar o final de semana, quem seria convocado para uma palestra na Europa ou quem o FMI (Fundo Monetrio Internacional) tratava melhor. O Mercosul tinha sido jogado na lata do lixo e a proposta da Alca (rea de Livre Comrcio das Amricas) se apresentava como a salvao porque iramos ter uma potncia como os Estados Unidos para comprar o que produzamos, recordou.

Nesse contexto, ele lembrou a importncia dos movimentos sociais. No foram muitos que tiveram coragem de levantar a voz contra essa ideia, mas foi exatamente aqueles que poderamos chamar de sectrios, de esquerdistas: um padre numa igreja, um sindicalista na porta de fbrica, o pessoal do sem-terra, as pessoas que comeavam a gritar que no era possvel nos subordinarmos a um acordo de livre comrcio tendo como uma mola mestra os EUA. Quando perguntvamos se eles iriam fazer com a Amrica do Sul o que a Unio Europeia fez com os pases pobres, se ia conseguir dinheiro para alavancar investimento em infra-estrutura, para ajudar no desenvolvimento tecnolgico, para tornar pases mais iguais a resposta era no. Isso, por si s, j fazia com que fossemos contra.

:: Poder para o povo
Por outro lado, ele acredita que o Mercado Comum do Sul agora uma referncia. Hoje, observamos a Unio Europeia, os pases ricos e pensamos como seria bom se eles olhassem e vissem como ns conseguimos fazer do Mercosul um centro de desenvolvimento para os pases que o compem, avaliou.

Para o presidente, outro ponto importante a expanso da participao social. Ainda falta muito, mas avanamos de forma extraordinria. No G-20 (grupo dos 20 pases mais ricos do mundo), os movimentos sociais no podem participar com os presidentes como vocs fazem aqui. Ali trabalhador no uma figura muito conhecida, s no resultado do PIB (Produto Interno Bruto, ironizou, deixando ainda um recado para as pessoas ali presentes. Essa uma conquista que vocs no podem perder, qualquer que seja o presidente.

Por fim, um dos fundadores da CUT, o lder brasileiro agradeceu a atuao dos movimentos sociais em todo o continente. No fosse o grito de vocs, a passeata, a bandeira, muitas vezes os dirigentes poderiam esquecer que vocs existiam. Esse comportamento de cooperao, sem perder a autonomia e a soberania os legitima como correia de transmisso da sociedade civil que vocs to bem representam, completou.

:: Da cultura ao que sabemos fazer de melhor
Pela manh, o ltimo dia da X Cpula Social do Mercosul colocou o sangue latino para ferver e transformou a abertura da plenria final dos movimentos sociais em um grande baile comandado por Los Reciclaves. O conjunto paraguaio, formado por pessoas que tocam instrumentos fabricados base de sucata reciclada, mostrou que a integrao no deve ser s do capital, mas tambm da cultura.

A seguir, representantes dos grupos divididos em 16 temas centrais sindicais, segurana alimentar e nutricional, juventude, educao, migraes, tecnologias sociais, integrao dos povos guaranis, Mercosul social e partcipativo, integrao participativa, Parlasul, comunicao, afrodescendentes, esportes, gays, lsbicas, bissexuais e transgneros, cultura e meio-ambiente apresentaram as propostas discutidas nos grupos de trabalho dos dias anteriores que compuseram a carta final do encontro. O documento ser divulgado em breve.

:: Nas ruas
tarde, foi a vez dos movimentos sociais ocuparem as ruas de Foz do Iguau na 5 edio da Marcha dos Migrantes.

Organizada pelas CUT, Fora Sindical, UGT, Grito dos Excludos e Centro de Apoio ao Migrante, a mobilizao defendeu um Mercosul sem fronteiras e antecipou a celebrao do Dia Nacional do Trabalhador Migrante, comemorado em 18 de dezembro.

Secretria da Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane Silva, lembrou que nenhum ser humano ilegal e que o social deve estar acima do Mercado. A tarefa das centrais sindicais e de toda a classe trabalhadora lutar para que, independente da nacionalidade, os trabalhadores tenham acesso aos direitos locais como as pessoas nascidas nos pases. Por isso, vamos cobrar a ratificao da Conveno da ONU (Organizao das Naes Unidas) da Conveno sobre a Proteo dos Direitos dos Trabalhadores Migrantes enviada ao Congresso pelo presidente Lula, disse.

Secretrio de Relaes Internacionais da Fora Sindical, Edson Bicalho, falou sobre os obstculos que se apresentam aos migrantes. Primeiro a dificuldade para obter o visto de permanncia, depois a carteira de trabalho. Posteriormente, encontram empecilhos para reconhecimento da formao profissional e comprovar o tempo em que exerceram a atividade profissional, alm de lutarem contra o trabalho escravo, a troca da mo-de-obra pela comida para no serem denunciados pelos patres polcia. preciso que tenhamos trabalho decente e para isso a livre circulao no se deve restringir s mercadorias, mas compreender tambm as pessoas.

Essas e outras reivindicaes foram entregue ao presidente Lula em forma de um documento, conforme informou o coordenador do Centro de Apoio ao Migrante, Paulo Illes.

Pouco antes de terminar a mobilizao, Illes pediu um minuto de silncio em homenagem aos sem-teto bolivianos e paraguaios mortos em Buenos Aires h uma semana e aos mexicanos que muitas vezes pagam com a vida ao tentarem migrar para os Estados Unidos. No podemos falar em integrao se no houver cooperao internacional. O tratamento para migrantes deve ser feito por organismos humanizados para termos um Mercosul realmente livre de xenofobia, racismo e discriminao, decretou.