Escrito por: Gibran Mendes, da CUT-PR

Deputado bolsonarista pede e dono de TV entrega cabeça de jornalista no Paraná

Grupo RIC, que retransmite a Record no Estado, também proibiu seus trabalhadores de usarem a cor vermelha

Elaine Menke/Câmara dos Deputados

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná (Sindijor/Norte PR), publicou uma nota para denunciar ataques às garantias individuais e assédio eleitoral da RIC TV aos seus jornalistas. O primeiro resultado desta prática foi a demissão da jornalista Carol Romanini, apresentadora da emissora em Londrina, na região Norte do Paraná.

De acordo com a nota do sindicato a demissão aconteceu após pressão do deputado federal Filipe Barros (PL), da base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição.

O motivo do pedido do deputado para demitir a jornalista é inusitado. No último sábado (10) aconteceu uma confusão envolvendo integrantes da torcida organizada Falange Azul, do Londrina Esporte Clube, com membros do comitê de Filipe Barros. Ambas as partes dizem ter registrado Boletins de Ocorrência, embora as versões sejam conflitantes. A jornalista estava próxima à confusão, em um dia de folga. Este teria sido o pretexto utilizado pelo deputado para pressionar os donos da emissora a demitir a jornalista, o que provocou a revolta dos representantes dos trabalhadores da região.

É um retrocesso, a volta ao coronelismo, disse o jornalista, José Maschio, do Coletivo de Diretores do Sindijor Norte do Paraná.

“A demissão da jornalista Carol Romanini é consequência direta do nosso retrocesso civilizatório. E esse retrocesso se reflete diretamente na mídia paranaense. Temos de volta o coronelismo da primeira República, onde os donos do dinheiro podem tudo”, afirmou Maschio.

“Esperamos que a Justiça do Trabalho e, especialmente, a Justiça eleitoral se pronuncie sobre esse descabido assédio eleitoral”, acrescentou o dirigente.

Demissão de Carol fere a democracia e os direitos trabalhistas, reagiu o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindiJor PR) e vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Célio Martins.

“A demissão de trabalhadores ou trabalhadoras causa grandes danos sociais. Quando a demissão é por motivos políticos partidários, fere frontalmente a democracia e os direitos trabalhistas. No caso da demissão de jornalista por questão política, viola também o direito de acesso da população a informações seguras e éticas e pode levar a manipulação e desinformação, o que afeta o Estado Democrático de Direitos”, disse Martins.

O dono do Grupo RIC, que além de retransmitir a Rede Record no Paraná também é proprietário de afiliadas da Jovem Pan FM no Estado, Leonardo Petrelli Neto, já havia proibido, no início desta semana, o uso das cores vermelha e bordô por repórteres e apresentadores. O motivo seria a ligação das cores com a campanha do ex-presidente Lula.

“Felipe Barros, o deputado bolsonarista, possui influência direta sobre a linha editorial do Grupo RIC. E essa influência levou à demissão da jornalista. Em um evidente abuso de autoridade e assédio eleitoral contra os trabalhadores”, diz trecho da nota publicada pelo Sindijor Norte do PR.

Ataques às jornalistas

A demissão de Carol Romanini acontece na mesma semana em que uma parcela significativa da sociedade repudiou os ataques do também bolsonarista, o deputado Douglas Garcia, de São Paulo, contra a jornalista Vera Magalhães.

A agressão aconteceu durante o debate dos candidatos ao Governo de São Paulo no último domingo (11). Vera Magalhães disse que Garcia agiu “deliberada e premeditadamente”. As palavras ditas por ele contra ela seguiram a linha das ofensas ditas, dias antes, pelo próprio presidente Jair Bolsonaro contra a jornalista.