Escrito por: CUT-PR com Paula Padilha / FETEC
XII Congresso Estadual da FETEC foi realizado na manhã de sábado em ambiente virtual (23) para eleição e posse de nova diretoria, prestação de contas e alteração estatutária
De que forma uma entidade representativa, com uma base de mais de 18 mil trabalhadores espalhados por diversas cidades do Paraná, poderia se adaptar ao contexto de pandemia e manter seu calendário de organização sindical? A Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-CUT/PR) foi a precursora na realização de um congresso virtual com a participação de mais de 100 delegados e cumpriu uma programação, transmitida ao vivo, promovendo alteração em seu estatuto, debate conjuntural e eleição e posse de sua nova diretoria.
Os trabalhos foram coordenados com um contingente mínimo de dirigentes sindicais a partir de Curitiba, com uma mesa formada pelo presidente que se despediu de dois mandados, o bancário Junior César Dias, e pelo então tesoureiro e novo presidente eleito e empossado, o bancário Deonísio Venceslau Schmidt.
O Congresso Estadual da FETEC teve a missão de realizar quatro votações virtuais e reunir dirigentes de dez bases sindicais distribuídas por todas as regiões do Paraná. A programação foi cumprida com horários estabelecidos para cada votação e o processo eleitoral foi também legitimado com a presença de um cartorário.
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As saudações iniciais foram promovidas por presidentes das dez entidades filiadas à FETEC (dos sindicatos de bancários nas bases de Arapoti, Apucarana, Campo Mourão, Cornélio Procópio, Curitiba, Guarapuava, Londrina, Paranavaí, Umuarama e Toledo), das regionais (Curitiba, Vida Bancária e Pactu) e também pela Secretária-Geral da FETEC, Daniele Perich, pelo presidente da CUT Paraná, Márcio Kieller, e pelo diretor da Secretaria de Finanças do Sindicato de Curitiba, Antônio Luiz Fermino, que concorre à presidência da entidade na eleição que será também virtual no início de junho. “Não teremos espaço para debates acalorados e, seguindo as recomendações de saúde, vamos fazer dos próximos quatro anos um símbolo de resistência nos desafios do mercado de trabalho”, disse.
Mensagens sobre fortalecimento e renovação de energias, de que os próximos anos sejam símbolo de resistência, de exigência de reinvenção tanto na organização dos trabalhadores quanto dos desafios no mercado de trabalho, de superação de barreiras, de efetiva participação democrática nesse novo modelo de construir as atividades coletivas, de um formato que demonstra a unidade dos sindicatos cutistas, de intensificação e continuidade dos trabalhos de gestão.
Foi nesse clima de coletividade e do apontamento de soluções para uma crise sem precedentes que o Congresso da FETEC foi construído de maneira participativa, na fala e na voz de diversas bancárias e bancários dirigentes sindicais no Estado.
“Foi evento histórico para o movimento sindical CUTista bancário do Parará que findou a condução do companheiro Junior Cesar Dias como presidente por duas gestões. Além disso, elegeu como novo presidentes para a gestão 2020/2024 o companheiro Deonisio Schimit, da qual eu orgulhosamente componho como diretor estadual junto com diversas companheiras e companheiros. O Congresso em tempos de pandemia de Coronavirus, foi virtual, em respeito as orientações da OMS e da autoridades sanitárias e aconteceu dentro da normalidade, com janelas para votações do Regimento, da aprovação da contas do último período e com a eleição congressual da nova diretoria. Para a CUT Paraná é um orgulho poder contar com uma federação forte, classista, democrática em suas fileiras na construção de um sindicalismo forte e representativo. Boa sorte a nossa nova gestão que tomou posse e se inicia no dia de hoje e sejamos firmes na defesa dos interesses da categoria bancária e de toda a classe trabalhadora”, afirmou o presidente da CUT Paraná, Márcio Kieller, que também é trabalhador bancário.
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Pessimista na análise, otimista na ação
As saudações em âmbito nacional foram proferidas, ao vivo, pelas dirigentes Juvândia Moreira, presidenta da Contraf-CUT, a Confederação Nacional dos trabalhadores bancários, e Carmem Foro, Secretária-Geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT). As lideranças fizeram uma breve e potente análise de conjuntura, além de saudar as mulheres bancárias e as direções das entidades participantes no Congresso.
Juvândia listou os novos problemas para as relações de trabalho que vieram com a pandemia, mas destacando a rápida reação do Comando Nacional, que no dia seguinte do anúncio da OMS procurou a representação dos bancos para imediatamente iniciar negociações em defesa da proteção da vida dos trabalhadores bancários, salientando que nesse período foram muitos avanços, como o estabelecimento de home office para quase 500 mil bancários e a garantia de equipamentos de proteção para quem está nas agências. A presidenta da Contraf-CUT salientou a importância dos sindicatos locais para o monitoramento da efetividade dessas medidas de proteção e o apoio aos trabalhadores.
Outra importante conquista foi o estabelecimento de negociações para que os bancos não aplicassem os cortes de salário possibilitados pela MP 936, que praticamente virou regra, via acordos individuais sem a participação de sindicatos, para todo o conjunto da classe trabalhadora, em diversas categorias. Ela lembra que o Brasil já estava mal economicamente antes da pandemia, com o aumento do desemprego e que esse é um grande desafio, mas entende que “devemos ser pessimistas na análise e otimistas na ação”.
Juvândia Moreira encerrou sua fala retomando uma questão central para toda a população do país: “o Fora Bolsonaro é fundamental”, um presidente que ataca a saúde, que ataca a vida, que ataca o isolamento social. É necessário o diálogo do movimento social com suas bases sobre o presidente ser “desqualificado, autoritário e genocida”, citando a divulgação de vídeo da reunião ministerial, que teve, inclusive, a participação dos presidentes dos bancos BB e Caixa.
Carmem Foro lembrou sobre o cenário conjuntural grave com crise sanitária, política e econômica, em que a vida já mudou e não haverá normalidade. “Só tem um caminho para todos nós, de luta e de resistência”. Carmem externalizou a necessidade de reforçar a solidariedade da classe e prestou especial solidariedade aos trabalhadores da Caixa, que desempenham importante papel social nesse contexto de pandemia.
A dirigente defendeu que o único caminho como saída para os problemas econômicos e sociais é a política: dar um fim nesse governo, não só no comandante na pessoa do presidente Bolsonaro, mas uma troca política.
Proximidade com os trabalhadores
A perspectiva norteadora do encontro foi a preocupação com a comunicação com os trabalhadores bancários em tempos de coronavírus e uma antecipação ao período pós- pandemia. O Congresso, então, foi aberto com a abordagem dessa temática pela presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo e Osasco, Ivone Silva.
Ivone apresentou as ferramentas utilizadas pelo maior sindicato da categoria no país para atender esses trabalhadores. “Os bancos já aprenderam que é possível ficar em home office, então como vamos atingir esses bancários?”.
Em São Paulo, o sindicato utiliza diversas ferramentas online: a newsletter inteligente, que é o envio de material informativo por e-mail, que possibilita a criação de banco de dados e controle estatístico sobre os acessos às notícias do site da entidade; o chat bot, que coloca o site do sindicato como fonte de pesquisa em sites de busca por assunto; a central de atendimento, formada por uma rede de pessoas que apura as dúvidas e dá retorno para o bancário sobre sua demanda, que funciona via chat, e-mail e telefone, com o processo de implantação via whatsapp; um aplicativo; a possibilidade de sindicalização online; e o QR Code, um ícone que direciona o usuário para uma informação específica.
Ivone explica que na atual conjuntura, as pessoas não querem mais pegar em papel e caneta, porque é também um fator de contágio.
Outras iniciativas em fase de testes, a exemplo do Congresso virtual da FETEC, são assembleias e eleições virtuais, em que ainda está sendo avaliada a participação dos bancários nesse processo, em comparação com as atividades presenciais.
Deliberações do Congresso
O Congresso da FETEC seguir com a apresentação do balanço financeiro e posterior votação e aprovação da prestação de contas e, ainda, com a apresentação, votação e aprovação de uma reforma estatutária. Foram alterados três artigos do estatuto: dois deles (23º e 26º) para inserir a possibilidade de plenárias e reuniões ordinárias “telepresenciais”; e o outro (15º) ampliando de três para quatro anos o espaço entre um congresso e outro, ampliando, assim, o mandato da nova gestão eleita.
Após o encerramento do prazo para inscrição de chapa, votação, aclamação, eleição e posse da nova direção da FETEC, a entidade apresentou um vídeo em homenagem ao diretor da Secretaria Jurídica da Federação, Marcos Neves, que faleceu em janeiro. Foram exibidas fotos de Marcos atuando no movimento sindical em atos, manifestações, greves, assembleias, junto a depoimentos de colegas e familiares.
Eleição da Nova Direção da FETEC – gestão 2020-2024
Uma chapa única se inscreveu com 72 nomes e foi construída com unidade entre os dez sindicatos filiados. De acordo com Deonísio Schmidt, eleito presidente da entidade, a chapa foi construída a partir de um período de longos debates junto aos sindicatos e regionais que são parte da FETEC.
Junior Cesar Dias, ex-presidente da FETEC por dois mandatos, assume no próximo período a Secretaria de Imprensa e Comunicação, e realizou a leitura do balanço de gestão, destacando dificuldades, erros e acertos, pontuando os diversos retrocessos conjunturais que enfrentou no período que esteve à frente da entidade, como as Reformas Trabalhista e da Previdência, a PEC do congelamento dos gastos sociais, as consequências do golpe para o movimento sindical, em que o fim do imposto sindical retirou possibilidades de arrecadação, enfraquecendo diversas entidades e desgastando a imagem do sindicalismo.
Nesse retrospecto, lembrou o período da prisão política do ex-presidente Lula, em Curitiba, e na forma como a FETEC se inseriu e enfrentou esse cenário no contexto das eleições de 2018 e no rompimento do pacto social: elaborou um planejamento para dialogar com a sociedade, para disputar o pensamento hegemônico através de investimento em seus canais de comunicação e da divulgação de materiais sobre conjuntura política e econômica, muito além da abordagem das condições de trabalho na categoria, colocando a comunicação no centro das ações, desenvolvendo campanhas de mídia e ajudando a financiar e distribuir o jornal Brasil de Fato Paraná.
Junior também lembrou o comprometimento da entidade em desenvolver ações sempre a partir da perspectiva de gênero, raça e diversidade, valorizando as pautas transversais. O balanço de gestão foi aprovado por aclamação pelos representantes das regionais, além da tese com estratégias e diretrizes para os próximos quatro anos de mandato. Junior encerrou sua participação lendo os nomes dos dirigentes que saíram durante a gestão e nomeando seus agradecimentos pessoais.
Punhos erguidos para resgatar direitos
O novo presidente discursou em nome da chapa eleita numa solenidade de posse virtual, representando coletivamente toda a direção. Deonísio nominou os sindicatos locais que compõem a FETEC para situar sua base de enfrentamento para o cenário difícil.
“A classe trabalhadora já enfrentou momentos difíceis, mas esse é terrível, os desafios são grandes. Enfrentar um opositor poderoso: um governo que mente para o povo brasileiro”. Deonísio defendeu que para gerar emprego precisa ter renda e as pessoas tiveram a renda roubada.
“O sistema de produção que troca comida por trabalho chama-se escravidão”. O novo presidente lembrou que não há nenhuma aliança da burguesia que tenha o interessa de fazer esse governo cair. Um governo canalha, que mente. Defendeu que somente a classe trabalhadora, que as mulheres, os negros, os quilombolas, indígenas, povos tradicionais, população LGBTI estão dispostos a fazer esse enfrentamento e que a categoria bancária deve “abraçar, brindar e proteger a maior conquista dos bancários: a nossa Convenção Coletiva de Trabalho”.
Deonísio também falou sobre a importância dos bancos públicos e encerrou seu discurso homenageando o legado de Santo Dias, Chico Mendes e Luiz Gushiken, e também a memória dos colegas bancários Juraci, Joaquim, Arlindo, Virgínia, Donizeti, Marcos Leitão e Marcão. “Punhos erguidos para resgatar direitos que ajudaram a construir”, declarando encerrada a posse e o congresso.
A reinvenção do movimento sindical foi possibilitada por uma conjuntura de extrema precariedade na conjuntura política, social, sanitária e econômica do país, em que a categoria bancária, que ostenta uma Convenção Coletiva e mesa unitária de negociação com amplitude nacional há 25 anos, beneficiando da mesma forma todos os trabalhadores bancários do país, sinaliza rápida adaptação também às mudanças no mercado de trabalho nesse contexto de pandemia.