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Artigo

Contra o assédio eleitoral dos patrões a resposta da classe trabalhadora será nas runas

Publicado: 28 Outubro, 2022 - 00h00

Estamos vivendo ásperos tempos, como definiu o título de um dos três tomos do romance de Jorge Amado, Subterrâneos da Liberdade. Neste tomo do romance o autor retrata os tempos mais difíceis do combate à ditadura militar que teve início no final de março de 1964 e se aprofundou a partir de 1968.

Constatamos esses ásperos tempos pela violência política e mais recentemente pelo assédio eleitoral que patrões têm feito contra trabalhadoras e trabalhadores interferindo no seu sagrado e secreto direito de escolha, que é o voto. Chantagens, ameaças indiretas e muitas, inclusive, diretas e abertas de tentar impor o terror àqueles que trabalham para que votem conforme a vontade dos patrões. E tudo isso para que se mantenha a lógica com que o desgoverno de Bolsonaro tem tratado a classe trabalhadora durante estes quatros últimos anos, voltada somente para atender ao seleto grupo de grandes empresários nacionais e internacionais que o elegeram e para quem ele governa.

Logo após o golpe institucional e parlamentar de 2012 que sofreu a presidenta Dilma Rousseff, mulher honrada e que crime nenhum cometeu, mas mesmo assim sofreu um processo de impeachment autorizado pelo Congresso, porque ela não se dobrou às chantagens eleitorais do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para que interviesse na bancada do PT para que não abrissem processo de cassação do seu mandato. Como forma de vingança, ele autorizou a abertura de impeachment pelo mais fraco dentre todos poucos pedidos impeachment que estavam em suas mãos. Diferente de Artur Lira, que hoje tem mais de 130 pedidos de impeachment de Bolsonaro e senta em cima desses processos, pois o atual cessante do planalto faz o seu jogo e empodera o Centrão, ou seja: é totalmente refém da política do grupo que historicamente se escora no poder.

De lá para cá, assumiu o ilegítimo Michel Temer e uma das primeiras de suas ações foi desrespeitar o acordo político que o governo havia construído com as Centrais Sindicais que garantiria o reajuste de aumento real do salário mínimo até ano de 2019, mas foi interrompido em 2016 pelo ilegítimo Temer. E depois com a ascensão de Bolsonaro isso se agravou, pois dele vieram artimanhas que além de não dar o aumento real na correção dos salários ainda arranjava forma de tirar dinheiro do salário, como no ano em que tirou 9 reais do poder de compra do salário mínimo.

Embora durante todos esses quatro anos não houve correção salarial maior que a inflação que desse ao salário mínimo aumento real (o que faz com que o salário mínimo proporcionalmente valha hoje muito menos do que valia quando começou o desgoverno Bolsonaro) não fosse a política de valorização implementada durante os governos democráticos e populares de Lula e Dilma, pasmem, teria o hoje o salário mínimo o valor de somente R$ 700,00. Isso sem falar da brutal retirada de direitos e das reformas que achataram ainda mais o poder de compra de mulheres e homens trabalhadores. É por isso que nós afirmamos que essa forma de tratar a classe trabalhadora é um imenso serviço prestado ao grande empresariado nacional e internacional, representado por um grupo muito seleto, como já dissemos; pois além de perpetuar a política de não dar aumento real aos salários, ainda ajuda a construir uma gama de reserva de mão de obra qualificada e barata que diante de um cenário de carestia e fome tem que se sujeitar a aceitar salários que não atendem a dignidade humana, forçando a essas mulheres e homens a ter que buscar atividades complementares para poder para sobreviver.

Não fossem todas essas desvantagens e retiradas de direitos da classe trabalhadora, agora, nos momentos que antecedem as eleições em que se desenha uma avassaladora vitória de Lula, vemos o quadro de exploração se aprofundar, com ameaças e chantagens dos patrões em cima de trabalhadoras e trabalhadores para que não votem em Lula, sob pena de perderem seus empregos, ou de outra forma tão nojenta quanto, que é a pressão dos patrões através de uma prática que acaba configurando também um duro e detestável processo que é o assédio eleitoral, que se dá de diversas maneiras, inclusive com a promessa dos patrões de premiar, dar um algum tipo de bônus e vantagem, como um 14º salário ou algum outro benefício financeiro ou vantagens, se o candidato apoiado por eles ganhar. Essa prática demonstra a mais deslavada compra de votos. Lamentável vermos tal situação, que nos dias atuais visa humilhar a classe trabalhadora lhe tirando a dignidade e o direito sagrado de exercer seu voto de forma secreta individual e em paz.

As milhares de denúncias pelo Brasil inteiro que estão surgindo nas vésperas do 2º turno, têm chamado atenção das centrais sindicais, sindicatos e federações, que num movimento de provocação têm cobrado do Mistério Público do Trabalho em todo o país e também nos estados averiguação de forma mais contundente essas denúncias que surgem, até porque essas denúncias têm vindo com áudios e vídeos que comprovam que um grande número de empresários não está respeitando a vontade individual das trabalhadoras e trabalhadores ao seu sagrado direito de voto. Muito pelo contrário: estão agindo de forma a ferir a democracia ao tentar influenciar dessa forma vil as trabalhadoras e os trabalhadores a votar como eles pensam e querem. Pura e simplesmente porque veem na continuidade do desgoverno a possibilidade real e concreta de aprofundar a retirada de direitos e conquistas históricas da classe trabalhadora.

Os patrões agem assim porque querem que se perpetue nos dias de hoje a lógica da constituição de um grande mercado de reserva de mão de obra qualificada e barata, para que se possam impor às trabalhadoras e aos trabalhadores cada vez mais a oferta de trabalho precário com o aprofundamento da retirada de direitos. O próprio Jair Bolsonaro vive reafirmando em nome de agradar os grandes empresários nacionais e internacionais que: “Eu tenho dito, desde a muito, que um dia os trabalhadores terão que decidir entre todos os direitos e desemprego e ou menos direitos e emprego”. Fala direcionada aos patrões, que nós não podemos aceitar. Assim como não aceitamos o assédio eleitoral, pois nós trabalhadoras e trabalhadores queremos a reafirmação da democracia, dos avanços, da manutenção dos nossos direitos, com a constituição de uma nova politica de valorização do salário mínimo e respeito à vontade individual das trabalhadoras e os trabalhadores na escolha de quem vai governar o país.

A resposta ao assédio moral tem sido imediata das entidades de representação dos trabalhadores que são os sindicatos, federações e as centrais sindicais com relação ao assédio eleitoral. Após as denúncias e a exigência de punição por parte do poder público, se criaram importantes canais de denúncias das centrais sindicais e do próprio Ministério Público do Trabalho para que Tudo que esta sendo denunciado e seja apurado rapidamente e que os responsáveis sejam penalizados pela Justiça, como já temos diversos exemplos de Termos de Ajuste de Conduta – TAC´s, retratações públicas e multas de alto valor para quem comete o crime do assédio Eleitoral.

Enfim, estamos a poucos dias das eleições e neste processo buscamos dar um basta a esses tempos ásperos e difíceis para a classe trabalhadora e para grande maioria do povo. Esperamos resgatar nas urnas a esperança e as melhorias de condições de trabalho, com recuperação e manutenção do poder de compra dos salários, além de recuperar direitos e revogar as perdas de conquistas históricas dos trabalhadores, para que possamos como cidadãs e cidadãos que somos e que produzem e querem poder consumir o que produzem, ajudando assim o Brasil a voltar a ter crescimento econômico, políticas públicas e programas sociais que voltem atender a maioria do povo brasileiro, principalmente aqueles que mais precisam de um estado forte e presente em suas vidas.

Basta de preconceitos. Basta de perdas de nossos direitos. Basta de estado ausente. Basta de quaisquer formas e tipo de assédio. Basta do desgoverno Bolsonaro! Por isso dia 30 de Outubro a resposta das trabalhadoras e trabalhadores será nas urnas! Será para trazer de volta o governo democrático e popular de Lula para governar o Brasil.

 

Marcio Kieller – Presidente da CUT Paraná e Mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal do Paraná – UFPR