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Artigo

O discurso de Ana Júlia e o que esperamos de nossos jovens

Publicado: 23 Dezembro, 2016 - 11h33



Um dos principais acontecimentos políticos do Paraná, do ano, nos jornais e nas redes sociais foi o discurso da jovem estudante Ana Julia. Seu discurso correu o mundo inteiro, e nós encheu de orgulho e esperança, por que falou, com muita propriedade, tudo aquilo que muitos queriam ter dito e não disseram.

A fala contundente, politizada e extremamente firme da jovem Ana Júlia nós retrata uma geração de jovens que sabe o que quer, ou melhor, podem até não saber o que querem, mas sabe exatamente o que não querem! E não querem exploração, não querem o desmonte do Ensino médio. Não querem uma escola que alije o conhecimento e retire a oportunidade de uma formação universal, laica e gratuita, ou seja, não querem uma escola que forme robozinhos apertadores de botão. Não querem o desmonte do Estado. Não querem um estado que será congelado e atrasado por uma geração inteira em tempo cronológico, por que não foram feitos os investimentos necessários em infraestrutura e áreas sociais, pura e exclusivamente para que se pague juros de uma dívida, que assim como esse governo é ilegítima. Pois afinal, existe um grande movimento pelo auditoria da Dívida, que nos demonstraria que pagamos por ela, muito além do seu valor real. 

Esse foi o espirito do discurso da jovem Ana Júlia quando colocou o dedo em riste para denunciar o descompromisso com a educação e os investimentos nas áreas sociais do governo Federal, pois se acontecer a PEC (241), que foi aprovada no Senado Federal como PEC 55, sob muitos protestos de milhares de estudantes e trabalhadores que foram a Brasília resistir contra a retirada dos direitos dos trabalhadores e dos investimentos por 20 anos como propõem o conteúdo da PEC, e foram recebidos a exemplo da polícia do DF, que tem feito escola com a polícia do Governo do Beto Richa do Paraná, com bombas de efeito moral, balas de borracha e muita violência totalmente desnecessária e descabida. Com a aprovação ada PEC foi sancionada pelo ilegítimo e impopular presidente Michel Temer. E agora virão as consequências.

Mas em seu discurso na Assembleia Legislativa do Paraná a jovem Ana Júlia foi mais além e acertou em cheio ao fazer uma crítica certeira a postura seguidista do Governo Beto Richa e do descaso dos deputados com a situação política das ocupações no Paraná. Também abordou entre seus temas com uma lucidez privilegiada uma análise de conjuntura estadual, onde o Governo do PSDB beneficia setores da iniciativa privada contra os bravos e contundentes guerreiros do serviço público do estado, os servidores e professores da rede pública mexendo em seus direitos. E ainda tenta propositalmente o Governo do Estado colocar nos professores do Paraná uma pecha de arruaceiros, baderneiros, socialistas e petistas, por defenderem seus direitos e uma escola de qualidade. O que na minha opinião soa como uma das coisas mais equivocada possível. Pois todos que somos pais e mães de estudantes, sabemos quão duro é a vida do professor no Estado do Paraná. Desvalorizado, obrigado a se encher de aulas para poder ter no final do mês um salário no mínimo decente. Não bastasse a humilhação histórica que viverão os professores do Paraná no 29 de Abril, onde foram violentamente massacrados pela bombas de gás lacrimogênio, bombas de efeito moral jogadas pelos helicópteros, tirou de borrachas disparados covardemente contra todos, sem exceção, e não podemos esquecer que naquele dia estavam lá alunos, professores e servidores que tinham um objetivo comum. Lutar contra a retirada de direitos dos servidores públicos paranaenses.

Não bastasse a humilhação pública que sofreram, o governo depois do ocorrido havia assumido o compromisso políticos de honrar com o seus compromissos e não passou um ano do massacre o que assistimos. O Governo tentar voltar atrás numa lei que havia assumido compromisso. Ou seja, voltou atrás e aprovou uma lei que desmente o que tinha anteriormente assumido com relação ao reajuste dos professores. Usa uma maioria amorfa e anestesiada que tem na Assembleia Legislativa para implementar suas maldades. Não toleramos isso. Não ter coerência é uma coisa, agora voltar atrás em compromissos assumidos em lei é outra totalmente diferente. É inconstitucional. Mas a onda neoliberal que ronda os poderes, influenciou também o Governo Beto Richa que não se incomodou em nenhum momento de retirar compromissos honrado com os trabalhadores do serviço públicos estadual.

O histórico de lutas constantes que vemos no Paraná é fruto desse processo sociológico que acompanhamos todos. Onde a forma como vem sendo tratado os professores do Paraná, onde o descaso e a violência é que levou a essa onda extremamente forte e organizada de ocupações pelo Estado. Poias as pessoas conseguiram visualizar que aqueles que prometem, não cumprem os compromissos assumidos e, não tem condições morais de honrar todo e qualquer tipo de compromisso. Simplesmente por que o compromisso não é com os trabalhadores, mas é com os empresários que ganham mais e mais com o “status quo” do povo paranaense. Ou seja, precisam de um povo dócil e domesticado, principalmente os professores, que são os que formam opinião e o desenvolvimento da consciência crítica nos estudantes. 

A Geração de Ana Júlia, nos surpreendeu positivamente. E não foi num fato isolado de um discurso político, a jovem e sua geração tem mesmo conteúdo e preocupação social, o que já pude observar em outros importantes momentos das lutas políticas que estamos enfrentando, como a fala dessa mesma jovem que eu ouvi em um Seminário contra a PEC 55 (antiga 241 da Câmara), onde pude de fato compreender que esses jovens querem mais. E não aceitaram passíveis o desmonte do Estado Brasileiro e do seu futuro.

E a postura dessa juventude engajada nas lutas de seu tempo, resistindo para que não tem seu futuro e seus sonhos roubados nos enche de orgulho alegria e determinação que estamos travando uma luta que vale a pena, não por nós, mas por todos os nossos. Que são cidadãos brasileiros e não merecem de forma alguma terem seu futuro ameaçado por esse leque de tentativa de retirada de direitos que os setores mais conservadores da sociedade tentam com a ajuda desse governo ilegítimo e popular nos tirar a qualquer custo. Não há boas intenções no grande empresariado. Eles querem a volta de um regime do capital totalmente desumano e regido pelo mercado. Onde as relações comerciais tem mais valor para eles que e as relações sociais.

E nossa juventude compreendeu isso, E e foi às escolas, ocupando-as, tendo-as em suas mãos para dar um claro recado aos políticos, aos patrões e aos governantes sem compromisso com o Povo. Que não aceitaram que lhes tirem o futuro. Se não pararem de tentar tirar nosso futuro, a ordem é resistir ocupar e criar condições melhores de vida em sociedade, homens mulheres e jovens sejam respeitados e possam sonhar e ter esperança. Por isso nosso orgulho e depositamos nossa confiança na geração de jovens que tem em si, a força simbólica do discurso político proferido na Assembleia Legislativa e espalhado pelas redes sociais para o mundo inteiro, pela jovem e conscientizada Ana Júlia!  

 

Marcio Kieller
Secretário Geral da CUT/PR, mestre em Sociologia Política pela UFPR.