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Artigo

OS 47 RONINS DA RESISTÊNCIA AO DESMONTE DO ENSINO PÚBLICO PARANAENSE

Publicado: 23 Dezembro, 2020 - 00h00 | Última modificação: 23 Dezembro, 2020 - 08h32

 

Ainda analisando os impactos da luta política que a educação pública paranaense contra a intransigência política que levou quarenta e sete bravas companheiras e companheiros a um ato extremo que foi a greve de fome, para resistir à postura cristalizada do governador do Estado do Paraná Carlos Massa “Ratinho Jr” e do seu Secretário de Educação Feder de implementar o desmonte do Ensino público como base para a mercantilização do Ensino.

Tempos atrás, tive a oportunidade de ver filme que em essência a sua história remetia a um exército de 47 bravos guerreiros orientais que tinham sido banidos, por um tirano e que se organizaram que se organizam para resistir à tirania, como missão resgatar seu reino sagrado, de todas as tentativas maléficas de profaná-lo. E o faziam colocando todos seus esforços nesse compromisso de vida. Uma história oriental famosa por milênios por causa do seu legado histórico, romanceada de fato, mas sem perder a força emocional desse legado histórico oriental, se transformou na história dos 47 Ronins uma das mais belas e famosas histórias de samurais.

DivulgaçãoDivulgação
Filme 47 Ronins

 

Isso me levou a fazer um paralelo, reservadas todas as proporções da ação política e da história politica à luta que as professoras, professores, funcionárias e funcionários de escola, estudantes, membros da comunidade escolar, principalmente aos que mais precisavam que o Estado do Paraná lhes desse essa guarida, afinal estão suprindo uma lacuna importante que devia ser o estado devia ter cumprido, realizando os concursos públicos para supri-la, que são as professoras e professores, funcionárias e funcionários de escola contratadas pelo Processo Seletivo Simplicado - PSS e membros da comunidade escolar.

Esses professores que tiveram a frente da sua luta a APP/Sindicato. Seu sindicato de representação lutas e conquistas septuagenária, que sempre lutou e exigiu que se fizesse concurso publico para suprir a vacância dos professores do ensino médio, que a mais de décadas se resolve paliativamente renovando o Processo de Seleção Simplificada – PSS. Ou seja, o problema todo ano se renova e só aprofunda a necessidade real e urgente de se chamar concurso público para professores da rede de ensino médio no estado. Por uma carência da Educação pública que por ter nos quadros executivos da Secretária da Educação um gestor do mercado essa necessidade está dando guarida a um projeto profundo de mercantilização do ensino.

E o problema se agrava com a postura intransigente do governo do Estado em desmontar a estrutura de PSS que já existe, e tentar impor outra estrutura de PSS através de uma prova, que na prática não muda em nada efetivamente a situação das professoras e professores PSS, não vai adiantar, pois vão continuar não sendo concursados. Essa situação precisa de fato ser revista, com a efetiva realização de concurso público que regularize a situação das dezenas das dezenas de milhares professoras e professores, que para sobreviver se submetem a aos processos seletivos simplificados.

Mas não nesse momento crítico da sociedade paranaense, onde precisamos ainda ter muitos cuidados sanitários e de distanciamento social relativo à pandemia de Coronavírus. Pois organizar estadualmente uma prova colocaria a saúde pública em grande risco, ante aos crescentes números de casos e de mortes em decorrência da Pandemia, Pois como dissemos a acima, seriam dezenas de milhares de pessoas, que por necessidade de sobrevivência se inscreveriam para a dita prova. Mesmo aqueles que historicamente defendem o concurso público e acreditam na escola pública, pois deixa de ser uma questão de princípio e passa a ser uma questão de sobrevivência financeira, pois é a possibilidade real de ter ou não emprego.

Muitos dessas professoras, professores, funcionárias e funcionários de escolas buscam essa diferença de visão de estado. Onde o estado possa ser diferente e dar lhes a dignidade da realização de um concurso público, onde essas professoras, professores, funcionárias e funcionários de escola Pública fossem de fato valorizados e não explorados como são, tendo que se submeter de tempos em tempos com a realização de uma prova que em nada mudará sua situação profissional desses milhares de professores, que continuaram de tempos e tempos a amarga e desgostosa insegurança de ter ou não seus contratos renovados mediante aos critérios de uma prova aplicada pelo mercado da educação.

Por outro lado a crueldade se aprofunda, por que se vê na intensão do governo estadual apenas e tão somente a possibilidade de mercantilizar a educação através de uma prova que de tempos em tempos será realizada e, as professoras e professores, funcionárias e funcionários necessitam cada vez que forem fazer a prova, irão ter que arcar com os custos de pagar uma taxa para se inscrevem e poderem para passar no processo seletivo simplicado e voltarem à condição de “professores provisórios” até a próxima prova. Oras, o método é adotado com requintes de crueldade, pois somente se assume uma visão mercantil da educação, frontalmente oposta a defesa de uma escola pública de qualidade.

APP SindicatoAPP Sindicato
Greve de fome na porta do Palácio Iguaçu

Esses que tentam implementar esse processo se assumem como os verdadeiros inimigos da educação da publica do Paraná. Afinal, ao criar de tempos em tempos essa insegurança profissional numa categoria que precisa estar constantemente se desdobrando para manter a qualidade do Ensino. E tudo isso agravado pelo fato que o estado do Paraná que tem uma politica de salário mínimo regional, em alguns casos em as escolas não chega a pagar o mínimo que ele próprio, o estado, estabelece. Chegando a ser vergonhoso para o governo ter essa postura intransigente de impor a qualquer preço a mercantilização da escola, que no campo das ações reacionárias que toma, vem se somar a outros importantes desdobramentos, como a questão da militarização das escolas, como a perseguição política que desencadeia constantemente tentando inviabilizar o sindicato e suas lutas.

Portanto, não podemos deixar de nos curvar aos resistentes da luta em defesa da educação pública, laica, gratuita, democrática e de qualidade científica que se deram ao extremo do flagelo da fome para tentar evitar o grave desmonte que se quer fazer na educação paranaense. E esse artigo ao fazer referência à épica saga dos 47 Ronins é uma forma de reconhecer os esforços que essas mulheres e homens, professoras, professores, funcionárias e funcionários de escola, dirigentes sindicais da APP/Sindicato travaram por oito dias depois que se esgotaram os recursos de tentativa de diálogo com o Estado. E dentre esses “47 Ronins” da resistência ao desmonte do ensino público paranaense, estavam dois bravos dirigentes sindicais, o próprio professor Hermes Leão, presidentes da APP e também a diretora de movimentos sociais da CUT Paraná, a professora Thaís Adams.

Esse movimento entrou para a história política da educação no Paraná e a sociedade paranaense que acompanhou as notícias diárias do desenrolar dessa resistência pela mídia da APP, da CUT Paraná e demais mídias alternativas, se dobram, no famoso gesto oriental de respeito aos “47 Ronins” da resistência em defesa da educação pública e do ensino de qualidade e estende esse reconhecimento a todas e todas que também durante todo esse processo também estiveram cotidianamente na linha de frente da construção desse movimento de resistência política.

A luta de resistência contra a Prova do PSS tinha como derrubar a intransigência do governo e abrir negociações por um lado e por outro despertar a atenção da sociedade paranaense para o desmonte da educação pública que vem sendo implementado por pelos gestores do mercado, como o próprio Secretário de Educação Feder e os seus colocados na Secretária pelo governador Ratinho Júnior. Que ao fazer isso dá a resposta a aqueles que financiaram sua campanha e querem ver a politica de estado mínimo ser implementada integralmente pelo governo, como vem fazendo em outras áreas. Mas isso não acontecerá sem resistência e luta. Luta como a demonstrada pelas professoras, professores, funcionárias e funcionários de escola e seu sindicato contra a mercantilização do ensino e a prova do PSS.

Por isso é fundamental acreditarmos sempre na organização das trabalhadoras e trabalhadores da educação para que cada vez mais tenhamos sindicatos fortes e representativos como a APP/Sindicato. Para prosseguirmos na luta em defesa da Educação e contra o desmonte das nossas estatais.

 

Marcio Kieller

Presidente da CUT/PR e Mestre em Sociologia Politica pela UFPR