Os Ventos do Norte, a Democracia e as eleições no Brasil
Publicado: 13 Novembro, 2020 - 00h00
Por Marcio Kieller*
Vimos os ventos das eleições na América do Norte soprarem no sentido de mover os moinhos da democracia por aquelas bandas. Que esses ventos tragam a possibilidade da volta da plena democracia e da justiça no Brasil. Pois com certeza as eleições municipais de 2020 assimilaram os reflexos da robusta vitória dos democratas, Joe Biden e sua vice Camalla Harris sobre o atual presidente de extrema direita Donald Trump.
Iremos às urnas, escolher nossos representantes para as câmaras municipais e para as prefeituras e vices prefeituras. Pois é a hora de colocarmos para avaliar as gestões municipais dos prefeitos, bem como também das vereadoras e vereadores que estão findando seus mandatos e vão se colocar para a análise geral dos eleitores se fizeram ou não bons mandatos. A análise que está de forma subliminar contida na delegação de voto consiste em ver como cuidaram do dia a dia das nossas cidades e como fizeram para que elas funcionassem, ou não, para atender as demandas da população. Ainda na noite de domingo teremos essa resposta. E o resultado das eleições municipais, já nos permitirá traçar as perspectivas de que rumo que serão apontados para as próximas eleições presidenciais de 2022. As eleições municipais de 2020 carregam em seu DNA o estabelecimento das premissas que irão influenciar as próximas eleições presidenciais.
Por isso é fundamental que para além de discutir seriamente os problemas de nossas cidades para podermos melhorá-las e fazer com que as demandas da sociedade, principalmente das camadas mais necessitadas destas cidades que são as suas áreas geralmente as áreas mais afastadas dos grandes centros e dos bairros nobres nas cidades sejam atendidas. Ou seja, as demandas da maioria das trabalhadoras e trabalhadores, das mulheres, homens e dos jovens, que estão organizados nos mais diversos e ecléticos setores da sociedade, tanto nas áreas urbanas como nas áreas rurais dessas cidades. Mas além desse necessário chamado ao atendimento dessas demanda, também é fundamental discutir os temas que estão colocados no cenário nacional e que podem ser decisivos para que haja reflexos da politica para a necessária mudança de rumos no governo central.
Temas fundamentais como a questão da democracia que tem dado fortes sinais de ausência durante o desgoverno de Bolsonaro. Precisamos compreender que o cenário atual da radicalização da política brasileira está cristalizando uma divisão na sociedade extremamente maléfica e sem proposito. Afinal, se faz mais a exaltação da política de ódio por parte dos protagonistas políticos do que pelo querer espontâneo da população e da sociedade brasileira.
E é aí que consideramos fundamentais os últimos acontecimentos dos Estados Unidos da América, mais propriamente a eleição do candidato do Partido Democrata Joe Biden e sua vice-presidenta Camalla Harris. A vitória de ambos é sem dúvida nenhuma um ataque frontal a essa política de xenofobismo, de machismo, e de apologia da manutenção do racismo estrutural. Tudo isso aliado à política negacionista dos republicanos em relação à ciência e ao combate a pandemia mundial de coronavírus, que fizeram com o os EUA sejam o país do mundo onde a pandemia mais se alastrou, contando nos dias de hoje no país com mais de 10.000.000 milhões de casos e com mais de 230.000 mil óbitos causados pela doença. Se houvesse por parte do governo Trump um respeito à ciência que representasse pelo menos no mínimo de 10% do respeito e a devoção por seu governo expressa pelo mercado financeiro, as coisas já seriam diferentes.
Por ser um dos maiores países do mundo os EUA e sua politica negacionista da ciência e anciã pelo lucro daqueles que os sustentam, fazem alguns lideres de país se transformaram em cegos seguidores ao redor do mundo. Alguns deles, inclusive já reviram suas posturas e mudaram sua linha de atuação no combate a pandemia, pois viram que se assim não agissem, poderiam também seguir na esteira do número de mortes ocasionadas pela doença ser ainda bem piores do que os números já catastróficos que esses países apresentam. Como foi o caso do governo de Boris Johnson na Inglaterra. Outro claro exemplo de cego seguidismo é o caso do Brasil, que. Por fruto de um golpe político em agosto de 2016, tirou da presidência uma mulher honrada e sem ter cometido nenhum crime. Colocando em seu lugar um ilegítimo que contribuiu de sobremaneira para a eleição presidente eleito Jair Bolsonaro, fruto desse processo golpista.
Presidente esse que tem uma postura de endeusamento de Donald Trump, pois se curva muito mais a bandeira americana do que se curva a bandeira do Brasil. Enfim, sua postura seguidista faz com o que o combate pandemia no Brasil e sua atuação em outras áreas seja visto por quem pensa como incapaz despreparado e não sério, com posturas extremamente contraditórias ao que seus próprios ministros da área da saúde, ministros, por que foram três durante a pandemia. Isso sem falar na sua incapacidade de resolver os problemas da economia, por que governa somente para o mercado e para os grandes latifundiários desse país, o que também prejudica a ação do governo com relação às queimadas, que consomem áreas gigantes da Amazônia, Pantanal e do Cerrado. Ou por exemplo também a politica de desmonte dos serviços públicos, principalmente num período de transição da pandemia mundial de coronavírus que ainda é um grande obstáculo da volta à normalidade no Brasil, nos estados e nas cidades como um todo. Ou seja, sua postura de arrogância e autoritarismo com relação a como trata a democracia e o papel do Estado no Brasil faz com que o Presidente brasileiro fique cada vez mais isolado com a vitória dos democratas nos Estados Unidos.
Por que a vitória dos democratas quebra a espinha dorsal da apologia do ódio de classe, cor, raça, religião e sexo que é exalada pelo presidente Donald Trump, que será mais a partir de janeiro o presidente da maior potência mundial. Deixando seus seguidores tanto internamente, como também com seguidores externos de Trump órfãos, leia-se como um dos maiores deles Jair Bolsonaro, que ficará isolado como um dos pouquíssimos presidentes de extrema direita no mundo e que terá sua gestão colocada à prova já nessas eleições de 2020 onde seus candidatos amargam, com raras exceções, os piores lugares nas pesquisas.
Do ponto de vista econômico, pelo menos para o Brasil não se aguarda grandes mudanças na postura dos Estados Unidos, conforme a histórica análise feita e que prevalece entre cientistas políticos e internacionalistas e que por causa de uma política de “independência” da economia por parte do banco central americano (federal reserv bank) assim a definição da política americana tem um peso muito grande externamente, maior podemos dizer do que a importância interna, com a exceção desse desastroso governo de Trump, que faz com que essas eleições americanas sejam diferentes, por se tratar de por fim um governo de extrema direita, fascista na implementação de suas politicas com apologia ao ódio e ao aprofundamento da luta de classes, vide o exemplo da questão da manutenção de imigrantes latinos em jaulas e da postura de separar país e filhos desses latinos, que teve repercussão e indignação mundial.
Por isso podemos dizer que os ventos do norte podem impulsionar e colocar para rodar os moinhos da democracia durante já as eleições de municipais de 2020 no Brasil. Que assim seja e que possamos quebrar esse espirito instalado de divisão social de nós e ele, inclusive pela apropriação por grupos de extrema direita dos símbolos nacionais, como a camisa da seleção de futebol, que cria uma identidade nacional através do esporte, da bandeira brasileira e hino nacional brasileiro. Esses símbolos são de todos e nós.
Somos um só povo, um só país que precisa aprender a viver respeitando a democracia, a sociedade, com respeito às diversidades existentes e sempre buscando construir politicas afirmativas de gênero, raça, credo e a cor possibilitando o livre debate de ideias e ideais em busca de uma sociedade livre, soberana, laica, justa, igual, fraterna e democrática para todas e todos que nela vivem.
Marcio Kieller é Presidente da CUT/PR e Mestre Em Sociologia Política pela UFPR