Ultraliberalismo e fundamentalismo religioso aprofundam a instabilidade na América Latina
Publicado: 12 Novembro, 2019 - 00h00 | Última modificação: 12 Novembro, 2019 - 13h20
As veias abertas da América Latina, sua história de colonização violenta, saques e pilhagens tiveram mais um capítulo neste domingo de 10/11/2019. O Golpe contra o governo constitucionalmente eleito na Bolívia pode ser compreendido como uma reação ao que acontece no Chile, Argentina e Equador. Ou vocês acham que as forças golpistas incentivadas, orquestradas e financiadas internacionalmente não contra-atacariam?
A América Latina, inicia o século XXI com um ciclo de políticas exitosas, avanços nas esferas sociais e Direitos Humanos, garantias de direitos às populações originárias, aos negros, às mulheres e a população LGBT, enfim os mais pobres conquistaram espaços na agenda política. É importante ressaltar que todos os governos de esquerda, ou centro-esquerda da região cometeram erros e equívocos. Mas as forças golpistas não atuam para combater os erros destes governos, atuam para combater prioritariamente seus acertos.
Há um padrão nos golpes orquestrados em toda a América Latina nos últimos anos, todos tinham como objetivo combater um projeto de unidade e autonomia para região, um projeto que expunha ao mundo uma América Latina altiva e que sabia utilizar sua soberania energética e sabia que tal soberania a projetaria muito facilmente como potência Mundial.
Os golpes foram sendo engendrados via deposição de presidentes por parlamentos e forças armadas ou eleições com verniz democráticos, mas todos tinham em comum a atuação do capital internacional e o imperialismo norte-americano. Tais forças passaram a agir utilizando-se de velhas estratégias como os aparelhos ideológicos e de repressão, e novas estratégias como as chamadas guerras híbridas, de uma forma ou se outra impuseram uma agenda golpista.
Nesta agenda golpista participam os meios de comunicação empresarial, o judiciário, as forças armadas, as polícias, milícias de toda a sorte, e as igrejas fundamentalistas que se ramificaram por toda a América Latina e tem um sua gênese uma pauta reacionário nos costumes e mais que isso se forjam no ataque aos direitos humanos, a diversidade em todos os seus espectros, e a autodeterminação dos povos.
Estas instituições fundamentalistas funcionam como um braço moral do neoliberalismo, reivindicam para si toda melhora de vida das populações da região que ocorreram nos governos progressistas. Afinal o “Estado é do mal”, e é na teologia da prosperidade que os indivíduos garantem a melhoria em suas condições de vida, não nas políticas públicas. Dessa Forma, o ultraliberalismo levado às últimas consequências tem se mostrado incompatível com a Democracia, e com qualquer projeto civilizatório. A destruição do Estado e os ataques aos direitos e às organizações classistas tem sido a toada dos governos golpistas na região.
Mesmo com a reação dos povos da região, via processo eleitoral ou manifestações rua, fica cada vez mais claro que os movimentos espontâneos de massas, apesar de importantes, se mostram ineficientes para a reorganização da classe trabalhadora. Nesta tarefa se faz urgente a disputa cultural e ideológica, precisamos estar onde estão as instituições que sequestram da subjetividade da classe trabalhadora, e reforçam os princípios do individualismo, da prosperidade, do empreendedorismo. Precisamos fortalecer nossas entidades para representação de todos os trabalhadores, incluindo àqueles submetidos aos vínculos precários, à informalidade e ao desemprego. É imperativo o protagonismo das instituições sindicais e dos movimentos sociais progressistas no combate ao imperialismo, e na garantia de direitos e do desejo de viver em paz.
Diana Abreu, professora da educação básica, Dra. Políticas educacionais e Diretora Executiva da CUT Paraná.