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Após 24 anos, SindijorPR cria Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial

Cojira no Paraná será integrada por grupo de jornalistas antirracistas. Uma das primeiras ações deve ser a criação de manual de práticas antirracistas

Publicado: 24 Outubro, 2025 - 09h55

Escrito por: SindijorPR

Leonardo Costa
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Uma das conquistas mais significativas para as e os jornalistas do Paraná durante o 8º Congresso Paranaense de Jornalistas, encerrado no último dia 11, é a criação da Comissão Permanente de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-PR) no Paraná. Ainda que tenha ocorrido mais de 20 anos depois da fundação da primeira comissão para tratar de questões raciais dentro do movimento sindical de jornalistas no Brasil, o ato é significativo e deve se converter em ações necessárias quanto à melhoria da diversidade no jornalismo paranaense.

A presidenta do SindijorPR, a jornalista Aline Reis, explica que a criação da Cojira-PR foi incluída no Estatuto da entidade, o que fortalece a Comissão quanto ao caráter permanente e independente da atuação sindical. “A Comissão não será acessória do Sindicato, não atuará de forma atrelada. Ao contrário disso, queremos que esse grupo se amplie e se fortaleça, inclusive para demandar as questões que pautarão nossas ações, inclusive em termos de reivindicações e pautas para as negociações coletivas”, expõe.

A jornalista e pesquisadora Ana Luísa Pereira, que ficará responsável por coordenar os trabalhos da Cojira no Paraná, explica que algumas ações já estão sendo planejadas para alavancar a atuação da Comissão. “Inicialmente, pensamos na criação de um manual de redação sobre práticas antirracistas no Jornalismo e, também, estamos sonhando com a criação de um banco de fontes pretas para contemplar as e os profissionais que temos e que, tanto quanto as pessoas brancas, podem e devem ser consultadas e consultados por jornalistas na elaboração de matérias de interesse público”, revela.

Tanto Aline quanto Ana Luísa enfatizam que a Cojira-PR não será apenas integrada por jornalistas pretas e pretos. “Também queremos sensibilizar e mobilizar outras pessoas que possam ajudar a fortalecer as práticas antirracistas em termos de jornalismo e quanto à outras questões que se referem ao conjunto da sociedade. Para fazer parte da Cojira do Paraná você precisa ser antirracista”, chancela a presidenta Aline.

A primeira Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial foi criada no Brasil em 2001, pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo. Desde então, outras dez entidades sindicais de jornalistas fundaram estruturas para “denunciar o racismo, fortalecer a representatividade e estimular a presença de jornalistas negros e negras antirracistas nas redações”. No Sul, além do SindijorPR e do Sindijor Norte PR, o Núcleo de Jornalistas Afrobrasileiros do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul atua na mesma frente desde 2001.

 

Para além da representatividade

Segundo o Perfil do Jornalista do Paraná – a ser publicado pelo Observatório da Ética Jornalística (ObjETHOS/UFSC) – apesar de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicar que o estado detém o maior percentual de pessoas pretas e pardas no Sul (34,3%), entre os jornalistas, a maioria se autodeclara como branca. Jornalistas paranaenses autodeclarados pretos e pardos correspondem a 14,5% do total de profissionais - indicando um descompasso em termos de representatividade.

A advogada Danisléia da Rosa, da Comissão de Mulheres Advogadas da OAB Paraná, participou da mesa Jornalismo, Liberdade de Imprensa e Democracia durante o Congresso de Jornalistas, e destacou a importância da mudança de perspectiva da imprensa no tocante às questões de gênero e raça. “Precisamos do pluralismo e da diversidade de vozes dentro do jornalismo. E quem tem essa voz? Quem é ouvido e quem é sistematicamente silenciado?”, questiona.

Danisléia enfatizou ainda o compromisso ético que deve pautar a atividade jornalística. “Quando nós olhamos para as redações, para as fontes e para quem define o que é notícia, nós percebemos que já existe um padrão marcado de gênero, raça e classe”, avalia. “É urgente que o jornalismo seja pensado sob a ótica da interseccionalidade. A imprensa tem o dever ético de reconhecer que as experiências humanas não são universais e que todas as experiências estão marcadas pelas questões sociais, pelas questões de oportunidade, de risco e de acesso”, complementa.

 

Articulação Nacional

Ainda durante o 8º Congresso Paranaense de Jornalistas, a presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Samira de Castro, anunciou que o Paraná irá sediar, em 2026, dois importantes eventos nacionais em termos de diversidade: o 2º Encontro Nacional de Mulheres Jornalistas (EMJor) e o 3º Encontro Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Enjira).

A presidenta do SindijorPR, Aline Reis, enfatizou a importância do anúncio. “Com a criação das Comissões Permanentes de Mulheres Jornalistas e de Jornalistas pela Igualdade Racial, no Paraná, queremos recuperar o tempo perdido nessas áreas e, neste sentido, nada melhor do que nos articularmos buscando quem já possui mais experiência nesses campos”, ressalta.