Caso Renato Freitas: mais um exemplo da abolição inacabada
Nota da CUT Paraná reitera apoio ao vereador e ao seu mandato
Publicado: 13 Maio, 2022 - 10h53 | Última modificação: 13 Maio, 2022 - 12h13
Escrito por: CUT Paraná
O dia 10 de maio de 2022 ficará marcado na história de Curitiba. De forma escancarada a elite branca de Curitiba se “livra” de um mandato de um jovem negro. Em um processo cheio de vícios, mentiras e contradições, o Conselho de Ética da Câmara de Vereadores aprovou o relatório que pede a cassação do vereador Renato Freitas.
Vídeos, depoimentos e até mesmo a própria igreja reconhece que a narrativa propagada nas mídias sociais, e comprada pelo legislativo municipal, é falsa. Se a porta estava aberta, não aconteceu invasão. Se a missa tinha terminado, não houve interrupção do culto. Mas a verdade é o que menos importa neste momento. O que vale é o argumento jurídico para cassar não apenas um mandato, mas a representatividade de uma parcela marginalizada da população curitibana.
Para os verdadeiros cristãos Deus é o pai que acolhe seus filhos e os protege. Jamais lhes nega o abrigo e sua casa está sempre aberta para acolhê-los. O resultado da votação é mais uma expressiva prova do racismo estruturante da nossa sociedade, que dita as regras de comportamento a partir do olhar da branquitude.
Para isso não precisamos ir muito longe. Basta olhar a nossa rotina diária, seja no centro da cidade, seja nas periferias ou nos bairros da elite. Basta olhar para a Câmara de Vereadores de Curitiba que desde 1693 mantém quase imperceptível a representatividade de vereadores e vereadoras negras parlamento municipal.
O verdadeiro crime de Renato foi quebrar essa lógica. Quando um jovem negro, de periferia, vai rompendo barreiras, desde as dificuldades para estudar, passando pela luta diária para manter-se vivo, até chegar a legítima representação da população negra e pobre da malfadada periferia, isto incomoda, ou melhor, torna-se uma afronta para a elite branca.
Esta mesma câmara que passou panos quentes em “rachadinha” e outras falcatruas no passado distante e também recente, agora se vê imbuída de um falso espírito cristão para fazer justiça aqueles que ousaram adentrar na igreja num ato em memoria de dois homens pretos covardemente assassinados por, vejam vocês, serem pretos.
Há, ainda, o simbolismo de o fato acontecer às vésperas do 13 maio, 134 anos da abolição inacabada, como canta o samba da Vila “a liberdade ainda não raiou, queremos o direito de igualdade, viver com dignidade não representa favor”. Abolidos para ser alvo das balas que procuram corpos pretos, para viver no cárcere, para ranquear índices desemprego, de miséria e da fome. Os que rompem esta lógica abolicionista se esbarram no racismo estrutural, que veem na promoção da igualdade racial um risco à hegemonia branca de poder e dominação.
#RenatoFica
Secretaria de combate ao racismo da CUT Paraná
Direção da CUT Paraná.