Respeito e valorização: o melhor tratamento para o professor
Pesquisa mostra que estresse e problemas musculares são as principais causas de afastamento docente. Entenda porque lecionar pode trazer riscos à saúde
Publicado: 15 Outubro, 2015 - 09h15
Escrito por: APP-Sindicato
Pesquisa mostra que estresse e problemas musculares s
Nem só de alegrias e reconhecimento vivem os(as) professores(as). Por trás de toda sabedoria e acolhimento, a categoria enfrenta dilemas diários: a rotina intensa de trabalho, as salas superlotadas, a baixa remuneração, condições inadequadas de trabalho e o excesso de cobranças são só alguns dos problemas que marcam a vida de quem escolheu o magistério como carreira.
Só na rede pública estadual, estima-se que algo em torno de 12% a 15% dos(as) educadores(a) se afastam para tratamento médico todos os anos. Um número que pode ser muito maior, pois os dados não são divulgados com clareza pela Secretaria de Estado da Educação(Seed). Quando o Estado deixa de cuidar dos seus talentos, quem perde é a sociedade. Em pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas de Opinião (IPO), a pedido da APP-Sindicato, os(as) educadores(as) apontaram o que consideram ser as principais causas de adoecimento: a indisciplina em sala ficou em primeiro lugar, seguida da falta de estrutura das escolas e do estresse sob o qual estão submetidos(as) os(as) trabalhadores da educação.
De acordo com os 1.330 entrevistados(as) em todas as regiões do Estado, a superlotação das salas de aulas é mais danosa à saúde do que os salários baixos e o atraso nos pagamentos de remunerações. Quase metade da categoria avalia ainda que as condições de trabalhado tem piorado na última década. “Eu amava o que fazia. Mas é um desafio trabalhar em uma escola onde falta desde merenda à segurança nos portões. Tem gente que não aguenta a pressão”, afirma a professora Maria Elisângela Ribeiro, sentada na fila do atendimento médico quando tentava conseguir uma licença para tratamento de saúde. A professora desenvolveu um quadro de estresse agravado após a escola onde era diretora ter sido assaltada seis vezes no último ano.
Sintomas X políticas públicas – De acordo com os dados da própria perícia médica estadual, 48% dos afastamentos são por problemas de tensão psicológica e/ou osteomusculares. De depressão à lesão por esforço repetitivo, ser professor(a) é uma profissão que exige força física e mental. “Na APP lutamos para que o Estado atue também na prevenção de doenças relacionadas ao trabalho. Tanto a voz, quanto o lado emocional do professor precisam de atenção”, reforça o secretário de Saúde e Previdência da entidade, Ralph Wandpap.
Além da intensa batalha por um sistema de atendimento que contemple as reais necessidades dos servidores e servidoras, a APP – em conjunto com o Fórum da Entidade Sindicais (FES) – é responsável por apresentar na Assembleia Legislativa duas propostas para garantir a prevenção de doenças laborais e um atendimento digno aos(às) trabalhadores(as). As propostas, com o apoio da bancada de oposição, viraram dois projetos de lei. O Projeto de Saúde do Trabalhador e o Projeto do Novo Modelo de Atendimento à Saúde tramitam, no entanto com extrema morosidade no governo Richa. “A nossa defesa para que os servidores tenham um atendimento de saúde adequando e eficiente é histórica e continuaremos buscando a aprovação das nossas propostas. É uma demanda urgente, pois precisamos de uma legislação específica, algo que ainda não temos”, resume Ralph.
A doença da profissão – “Entre os profissionais mais sensíveis à síndrome, o professor é a categoria mais estudada”, afirmam as pesquisadoras Aparecida Neri de Souza e Marcia de Paula Leite no estudo “Condições de trabalho e suas repercussões na saúde dos professores da educação básica no Brasil” ao explicarem a síndrome de Burnout.
A síndrome do esgotamento profissional foi descrita pela primeira vez nos anos 90 e caracteriza-se pela soma de estresse físico e mental e pela diminuição gradativa da vontade de exercer a profissão. A doença aparece em diversas profissões que exigem alto esforço mental atrelado ao desgaste físico, como enfermeiros e bancários, mas é nos professores e professoras que sua incidência é ainda maior.
Ser professor(a) é cuidar do outro por meio do conhecimento, mas é também um ofício que exige cuidado. Prevenir ainda é um bom remédio, mas a valorização profissional e o respeito ao docente ainda são os melhores tratamentos que governos e sociedade podem dispensar a estes nobres profissionais.