Seminário debate o desenvolvimento da Região Sul na perspectiva nacional
Projeto de País deve ter continuidade para manutenção e avanço das conquistas da classe trabalhadora na avaliação dos palestrantes
Publicado: 28 Agosto, 2014 - 15h23
Escrito por: CUT-PR
Cerca de 200 pessoas participaram na manhã desta quinta-feira (28) do Seminário de Desenvolvimento Regional – Região Sul promovido pela CUT Nacional em parceria com as suas estaduais. Na pauta o cenário econômico e social da região e os principais desafios a serem enfrentados.
As eleições deste ano ganharam um papel de destaque no seminário. O secretario-geral da CUT, Sérgio Nobre, destacou as mudanças que o País vem absorvendo nos últimos 12 anos. “Estivemos no nordeste que vive a sua maior seca em 50 anos e não se viu nordestino migrando para lugar nenhum, pois existe uma política social”, afirmou.
Nobre ainda reforçou que a mudança no cenário eleitoral, sobretudo com as recentes pesquisas eleitorais, podem ser positivas. “As vezes a mudança de cenário vem para bem. É sinal que é hora do nosso movimento entrar em campo. Foi assim com o presidente Lula em 2005, lembram? Foi um novo rumo que seguiu-se do êxito em seu segundo mandato", recordou. Nobre ainda enfatizou que os CUTistas devem estar totalmente engajados na luta contra o projeto que representa o retrocesso e continuar mobilizados na defesa do do que representa a continuidade do desenvolvimento do País. "Vamos ser decisivos neste processo, é hora da CUT e dos movimentos sociais entrarem na luta”, completou.
A presidenta da CUT Paraná, Regina Cruz, destacou a importância da manutenção do projeto de governo em andamento e a necessidade do envolvimento da militância CUTista. “Temos nossa unidade e ela deve ser demonstrada neste momento de importância fundamental para o futuro do Brasil. Quanto mais unidos em nossa região Sul, mais poderemos mostrar essa unidade para que cada vez mais a CUT saia fortalecida e protagonista”, afirmou.
Dois projetos em disputa - O presidente da CUT Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo, fez uma análise do histórico do desenvolvimento da região, sobretudo no Rio Grande do Sul. “Nós temos um corte em comum que justificam nichos altamente desenvolvidos nos três estados, resultado das cadeias migratórias que vieram no Século XIX. A economia circulou localmente, não foi a vinda de grandes empresas, mas sim de mão de obra que gerou este cenário”, relatou.
Ele citou o exemplo de uma grande empresa do Estado que começou produzindo carroças para levar banha de porco até localidades próximas. “Isso criou um dinamismo econômico, pois o dinheiro era gasto no mercado local e não em Miami”, criticou.
Nespolo também falou sobre a diferença de dois projetos que estão em jogo, que segundo ele, não se traduz no número de candidatos, mas em suas propostas. “Na primeira entrevista de Marina Silva ela já comprometeu-se com o ajuste fiscal. Essa é a palavrinha mágica que encanta banqueiros e pessoas que sobrevivem da produtividade dos outros, não produzem nada mas ganham muito bem”. Do outro lado, segundo Nespolo, está o modelo de estado como indutor de desenvolvimento. “No Rio Grande do Sul, em 2002, eram 2 milhões de trabalhadores com carteira assinada, em 2013 fechamos com 3,8 milhões”, completou.
Trabalho decente- A pesquisadora do Instituto Observatório Social, Juliana Souza, apresentou índices do trabalho decente que estão sendo trabalhados pela entidade. Os indicadores levam em conta informações como rendimentos adequados e trabalho produtivo, oportunidades de emprego, jornada de trabalho, entre outros.
A análise de cenário foi ampla e avaliou diversos aspectos da situação do trabalho decente. “Na Região o salario médio de admissão por gênero no primeiro trimestre de 2014 ficou em R$ 1.187 para os homens e R$ 1.050 para as mulheres”, relatou Juliana. Os dados apresentados por ela demonstram que apesar de uma série de conquistas, como a sequência de aumento real nas negociações salariais, ainda há muito no que avançar.
Este panorama, reflete, a necessidade de garantir a qualidade do emprego após a conquista do cenário que leva praticamente ao pleno emprego no Brasil, além da atenção as minorias. “Em 2013 os índios do Paraná e Rio Grande do Sul protestaram vários dias contra o processo de demarcação de terras, além de problemas envolvendo por exemplo, a contaminação de terras por agrotóxicos.
Cenário econômico – A análise dos indicadores econômicos ficou a cargo do representante do Dieese, Leandro Horie. Os números de emprego, participação da Região Sul na economia nacional e dos setores ganharam destaque na apresentação do economista.
De acordo com ele, embora a região tenha uma papel de destaque no cenário nacional, tem apresentado um crescimento discreto no comparativo com o restante do Brasil. “A indústria e a agricultura tiveram queda em sua participação nacional”, explica Horie.
Este crescimento discreto, na análise do economista, também se reflete nos índices de emprego. Se em 2003 o mercado de trabalho local representava 17% do total de ocupados no Brasil, em 2012 esse número caiu para 15,7%. Contudo, estes indicadores refletem o crescimento de outras regiões, não necessariamente sendo reflexos do desemprego. “Este indicador teve queda, assim como no restante do País. A Região Sul também registrou crescimento das taxas de formalização e queda expressiva da informalidade na saúde e seguridade, além dos setores de comunicação e do vestuário”, exemplificou.
Para Horie, os principais desafios da região são a retomada do seu espaço na economia e dos setores industriais e agropecuário que deixaram de crescer na média nacional. “De que forma se articularão os estados a região sul e qual será o papel do movimento sindical?, provocou ao fim da sua apresentação.
Adaptação para a cidadania - O encerramento da mesa ficou com o economista e assessora da bancada do PT na Assembleia Legislativa do Paraná Wagner William. Ele fez uma análise do movimento do capital ao longo da história e acredita que hoje o sistema financeiro enfrenta a sua maior crise desde 1929.
“O Capitalismo não é algo só e isolado, nós temos vários modelo. Na Europa pós-guerra tivemos um capitalismo que chamou a atenção de todos, com menor desigualdade social, pouca pobreza e um processo de cidadania, se contrapondo ao modelo americano que foi quem mais influcenciou o capitalismo brasileiro, pelo menos até 2003”, analisou.
Neste momento, William falou sobre o que ele chama de “capitalismo brasileiro” que é uma espécie de adaptação social ao sistema vigente, construído de forma cidadã. “Mas estas escolhas tem seu preço e talvez esta fatura esteja nos batendo a porta neste momento”, refletiu. Ele citou como exemplo os juros da Taxa Selic. “No Governo FHC era de 23,8% e agora está em 9,9%. Isso não é pouca coisa, afinal em 2003 pagamos em juros da dívida pública algo em torno de 14% do PIB. Isso significa que os rentistas brasileiros abocanhavam 14% de tudo o que era produzido no Brasil ao longo do ano sentados no sofá. No ano passado este indicador foi de 5,7%. Não é à toa que tem gente braba por ai”, finalizou.