Dez mil vão às ruas lembrar os dez anos do Massacre do Centro Cívico
Uma década se passou desde o 29 de abril de 2015, mas o tratamento aos trabalhadores segue sem grandes mudanças
Publicado: 29 Abril, 2025 - 09h35 | Última modificação: 29 Abril, 2025 - 13h27
Escrito por: CUT-PR

Professores da rede pública estadual, funcionários de escola e diversas outras categorias foram às ruas nesta terça-feira (29) para manter viva a memória do 29 de abril de 2015. Aproximadamente 10 mil pessoas lembraram desta data na qual a Polícia Militar, sob o comando do então governador do Paraná, Beto Richa, e de seu secretário, Fernando Francischini, atacou com bombas, balas de borracha e até disparos a partir de helicópteros os trabalhadores da educação.
O cheiro de gás de pimenta nas ruas próximas, a nuvem de fumaça branca gerada pelas bombas de efeito moral — que atingiram inclusive ruas vizinhas e até uma creche — e as inúmeras marcas deixadas pelas balas de borracha permanecem na memória e até no corpo de quem esteve no Centro Cívico naquela tarde.
“Para que nunca se esqueça, para que não se repita. É fundamental preservar a memória do que aconteceu naquele dia. A violência do Estado contra trabalhadoras e trabalhadores que buscavam seus direitos, que não queriam o confisco de sua aposentadoria, é algo que até hoje surpreende. Não por outro motivo, tornou-se notícia internacional”, recorda o presidente da CUT Paraná, Marcio Kieller.
“A gente está em mais um período difícil, em que a mão do governo tem pesado sobre nossa categoria nas escolas, mas estamos de pés aqui firmes e fortes para enfrentar. Atpesar da repressão brutal, o dia 29 é marcado pela força de nossa categoria. E a gente precisa manter essa mesma energia contra outras formas de violência que a gente tem vivenciado”, afirma a presidenta da APP, Walkiria Mazeto
“O 29 de abril de 2015 marcou a história de luta do magistério paranaense e de todos os servidores do Estado. Foi um dia de muita resistência, solidariedade e defesa dos direitos, dos serviços públicos e da escola pública de qualidade. Esses dez anos foram muito intensos. Passamos por um golpe de Estado no Brasil, por uma pandemia e por governos autoritários como o de Ratinho Júnior, que se aproveitou desses momentos difíceis para retirar direitos”, afirma a vice-presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Marlei Fernandes.
Para ela, a marcha é fundamental não só para manter viva a memória do que ocorreu, mas também para reforçar que nem mesmo episódios de violência desenfreada promovidos por gestões públicas serão capazes de fazer a classe trabalhadora recuar. “Fomos às ruas neste 29 de abril para lembrar um dia de luta tão importante como aquele. Para nos revermos em marcha, em defesa da categoria, dos serviços públicos e, principalmente, da escola pública. Também queremos mostrar que governos autoritários não nos calarão”, completa Marlei.
O secretário de Comunicação da CUT Paraná e da APP-Sindicato, Daniel Matoso, ainda guarda vividamente as memórias daquele dia — os sons, os cheiros, as imagens. “Enquanto fugia pela praça, entre as árvores, das balas de borracha e do gás insuportável, um helicóptero sobrevoava, cercando e lançando mais gás na direção em que recuávamos. Mas a lembrança que nos fazia resistir era a de que, enquanto uns recuavam para se recuperar, outros avançavam. Assim, revezávamos”, lembra. “Mas a violência continua com o governo negando nossos direitos à data-base, ao piso salarial e à hora-atividade. E, para piorar, a pressão pelo uso das plataformas digitais tem adoecido a categoria. Outra forma de violência é a militarização e privatização de escolas, além da terceirização de funcionários e professores”, completa Matoso.
A superintendente regional do Trabalho do Paraná, Regina Cruz, que na época presidia a CUT Paraná, também tem lembranças marcantes do dia 29 de abril. “Foi um momento de muita resistência das trabalhadoras e dos trabalhadores da educação pública. Nós, da CUT e dos sindicatos, reforçamos nossa unidade. O que fica para a história é essa resistência em defesa da aposentadoria. Esse cenário já indicava os dias difíceis que viriam, como o golpe contra a presidenta Dilma, por exemplo”, comentou.
Pautas – A APP-Sindicato, os professores e os funcionários de escola cobram do atual governador do Paraná, Ratinho Júnior, a reposição da data-base, com atualização salarial frente às perdas inflacionárias. Além disso, exigem o pagamento do piso nacional do magistério com aplicação na tabela do plano de carreira para professores da ativa, contratados pelo PSS e aposentados, com ou sem paridade.
A categoria também reivindica a abertura de novas vagas para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e a equiparação salarial de professores e funcionários com as tabelas salariais de outras categorias do funcionalismo estadual. Outro ponto importante levantado pela APP-Sindicato é que o desconto previdenciário seja aplicado apenas sobre os valores que excedem o teto do INSS.